Duas velhotas aborígenes sobem ao palco e dançam junto ao grupo, igualmente aborígene, que animava a noite de Alice Springs. Polícias tentam retirá-las do local, mas vão resistindo. As autoridades insistem. Contrariadas, acabam por descer os oito degraus de forma cambaleante. Uma cai a meio, mas sem consequências de maior.
A uns 20 metros, um idoso tomba de costas e perde os sentidos. Sangra pela cabeça. Ninguém muito preocupado. Os aborígenes não ligam a um dos seus, os brancos da organização chamam os paramédicos, mas parecem já demasiado habituados e cansados do cenário. Tudo sem alarme, curiosidade ou alarido. Há um dejá vu demasiado frequente.
Estes três aborígenes, aleatoriamente escolhidos no nosso raio de visão, têm em comum excesso de álcool no sangue. O mesmo problema da quase centena que ocupa a improvisada pista de dança. Entre novos e velhos, não se vislumbra um sóbrio. Em circulo mais alargado, observadores, alguns turistas ainda têm dificuldades em acreditar nesta realidade.
Toda a Austrália está virada para o turismo e, mesmo tendo em conta os inúmeros lugares naturais de sonho, a presença aborígene é constante. Vende mais do que tudo. Boomerang's, telas, t-shirts...
Apesar de tudo isso, só na muito isolada Alice Springs, no centro do país, pudemos finalmente contactar com este povo, aqui muito enraizado. A verdade é que não foi bonito. Este episódio foi apenas um dos inúmeros a que pudemos assistir. Na primeira noite em que saímos, um canadiano, igualmente alcoolizado, foi violentamente atacado por cerca de 20 aborígenes quando urinava junto a uma gigantesca árvore de natal. Coisas...
Os aborígenes são muito mais sensíveis do que o Homem branco a doenças, taxas desemprego, suicídio, mortalidade infantil... perdem em todas as avaliações. Ficam 20 anos atrás em termos de esperança média de vida.
A sua estrutura genética torna-os vulneráveis ao álcool. O organismo não tem defesas para este mal. O álcool tem neles o mesmo efeito que as drogas duras nos restantes humanos. As Gerações Roubadas resultaram neste enorme flagelo.
Mesmo sem trabalhar (é assim com a esmagadora maioria dos aborígenes), o Estado compensa-os com inúmeras regalias sociais, que um normal contribuinte inveja. Faz parte do reconhecimento de que a Austrália efectivamente lhes pertencia, bem como todas as suas riquezas. E um grande sentimento de culpa...
A triste realidade é que o dinheiro se evapora literalmente em bebidas alcoólicas. Face a este grave problema, a sociedade aborígene tem um limite estipulado por lei para o consumo diário de álcool, mas todos os esquemas possíveis são tentados para tornear as regras. Geralmente, condenado ao fracasso.
Nas ruas, vagueiam com olhar vazio. Andam vestidos, mas não há um cuidado, um esmero. Fica igualmente a forte convicção de que não têm noções de higiene pessoal. Boa parte desta comunidade não é autorizada a entrar em bares, restaurantes... não são desejados pela comunidade branca local.
É uma questão demasiado complicada para olhos estranhos como os nossos poderem ajuizar em tão pouco tempo e escasso conhecimento de causa.
Há mais de um século, uma observadora jovem aristocrata inglesa resumiu como poucos a questão aborígene: “O nativo australiano consegue suportar todas as contrariedades da natureza – secas demoníacas, dilúvios impetuosos, horrores da sede e da fome forçada – mas não consegue suportar a civilização”.
A triste realidade entre o domínio dos mais fortes, mesmo que sem razão! Mas a razão é coisa de homens...
ResponderEliminara "lei do mais forte" é natural... próprio do instinto animal...