Um despretensioso registo desta aventura nos antípodas…

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

BALANÇO


O fascínio dos antípodas toca a muitos, percebe-se facilmente. Nesta linha, perguntam-me, invariavelmente, se esta foi a viagem da minha vida.
Interiormente – aliando razão à emoção - não hesito na resposta. Não, não foi.

A América do Sul pode continuar sossegada (como se lhe importasse para algo o que penso ou sinto), pois continua a ser o meu cantinho predileto neste pequeno globo.
ADOREI a Austrália, gostei ainda mais da Nova Zelândia (aliás, como estava à espera), mas a estes destinos de sonho (que o são, de facto) faltam várias “nuances” para merecer a predileção nos meus gostos de viagem.

Na verdade, ambos os países revelam-se tão perfeitinhos que quase me stressam (exagero, claro, mas é para que me entendam). Sinto falta do imprevisto, de “confusão”. Das dificuldades das quais nascem as boas histórias. Aquelas que não esqueceremos e nos “atropelamos” (eu, Carlos e Zé Luís) para contar aos amigos.

É impressionante o avanço social de ambos os países – no Ocidente (em Portugal nem vale a pena falar) temos tanto a aprender… - nomeadamente o sentido comunitário das pessoas e a sua integridade moral.

Do outro lado do planeta, valoriza-se o bem comunitário e não se brinca com ele. Sabem que todos têm a ganhar. Lá, a honestidade é uma inquebrantável questão de honra. Aqui, na chico-esperta Lusitânia, a seriedade parece um estigma atribuído apenas aos “totós”. E, com essa bela filosofia, afundamo-nos enquanto sociedade, sem que o fim do abismo se vislumbre no horizonte.

Em termos de simpatia, “kiwis” e “aussies” não ficam atrás dos primos canadianos. Aliás, foi com humor que várias vezes foi comentado, com diversos interlocutores, por que são os ingleses uns “idiotas” se todos os seus descendentes são simplesmente espetaculares? (sim, sei que é uma leviana generalização).

Se as pessoas são fantásticas, as paisagens da Nova Zelândia e Austrália cortam a respiração. Enchem o peito e espírito de qualquer um. Deslumbrantes Fiordes, imponentes vulcões, espantosos glaciares (Nova Zelândia), idílicos corais, o imenso outback, divinas praias (Austrália)… sobram motivos para visitar estes países, assim a carteira consinta – estou a preparar o meu coração para as contas finais que vão ditar o rombo que levámos nesta aventura.

Ainda assim, mesmo com todos estes justificados elogios, falta algo. Ou vários “algo”. Estas terras foram povoadas pelos europeus há “apenas” dois séculos e meio (nunca lá deveríamos ter posto os pés), sente-se a ausência de uma cultura própria.

Aborígenes e maoris, por milhares de anos tranquilos reis e senhores destas paragens, são agora mero isco, simplesmente forte atração turística, pois nos respetivos países a sua vida está longe de ser fácil. São marginalizados e isolados (nomeadamente os aborígenes), apesar das “regalias” sociais.

Desapontado pela ausência de uma cultura mais forte, que não fosse réplica de outras anglo-saxónicas, com uma identidade muito virada para o “fish and chips”, em todas as áreas. Aliás, metáforas à parte, gastronomia local é algo que também não existe. Podemos facilmente encontrar qualquer tipo de “fast food” ou comida asiática, mas não há tradição local em termos de gastronomia. Grande desilusão.

Falta ainda história. Da recente, dos últimos 200 anos, com maior ênfase nos últimos 40, há de sobra. Mas falo de História. Até nas pessoas. Saudades dos idosos nos quais podemos ler crónicas nas suas múltiplas rugas, mãos encardidas, no singular traje ou no profundo olhar…

Sinto falta de entrar num transporte público e, ao fim de umas horas, ter inúmeras histórias para recordar. Daquelas com textura, sabor, odor… que estimulam e amarram totalmente a plenitude dos nossos sentidos.

Bom, 2011 é já ali… e destinos não faltam. Até já…

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

UMA NESGA RUMO A CASA


No concorrido aeroporto de Doha – a Qatar airways ganha cada vez mais adeptos pelo mundo – sobravam indicações de “delayed” no painel das partidas. Tememos o pior. Sabíamos que por essa Europa sobravam aeroportos fechados e são aos milhares os que estão retidos, sem poder viajar. A Sofia e o Paul, que chegariam no mesmo dia que nós, estão retidos três dias em Londres.

Essa não era, certamente a melhor forma de terminar esta viagem. Ao todo foram 14 voos e empenar logo no fim era castigo imerecido.

A nossa escala era em Milão. E sabemos que o Norte de Itália costuma boicotar em força quem viaja de Inverno. Os olhos cresceram mais atentamente para o painel e, algo incrédulos, esboçámos um sorriso. Tímido.

Será que vamos mesmo ter sorte? Escapar por uma nesga?
A verdade é que à hora prevista, estávamos a fazer o check-in. Estava a correr bem. Mas nada impediria de que a situação mudasse já quando estivéssemos nos céus da Europa.

“Está tudo calmo. Nem sequer há neve”, queixou-se o Carlos, minutos antes de Malpensa nos estender a pista.
“Olha melhor, pois é impossível. Vais ver que quando descermos um pouco mais não faltarão mantos brancos”, respondi.

E assim foi. A zona de Milão estava completamente branca, mas, às 05:30, os deuses ainda dormiam, tal como a sua fúria. Escapámos de ventos e tempestades e pousamos serenamente num imenso manto branco. A primeira parte do problema estava resolvida.

Agora havia que deixar o Terminal 1 e correr para o Terminal 2, onde nos esperava um voo Easyjet. Operação bem sucedida. Mesmo com a confusão festiva de vários “tifosi” do Inter, que esperavam no aerporto a equipa que se tinha sagrado campeão do Mundo.

Juntos, estávamos autorizados a transportar 60 quilos. Malvadez, levámos 60,1 kg. Rimos com vontade. A menina do check-in não achou assim tanta piada. Nem quando, prestáveis, nos voluntariamos a retirar 100 gramitas de uma das malas. Há quem não acorde de bom humor…

Com pequeno atraso, acabámos por partir. Os próximos passos em terra firme, já seriam no Porto…

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

DOHA


Já tínhamos saudades das festas que por esse mundo fora se têm feito em nossa “homenagem”. Guardaram-na para a despedida. Em Doha, capital do cada vez mais pujante Qatar.

Tínhamos apenas 12 horas para conhecer a cidade. Pagámos o Visa para entrar no país e metemo-nos à aventura. Um minuto após entrarmos num autocarro, já nos perguntavam se éramos brasileiros. Falávamos a mesma língua, justificaram. Esclareci que do outro lado do Atlântico falam português, língua que é usada em vários continentes.

O jornalista/comediante, nosso interlocutor, sorriu com a aula. “Já tens um destes?”, perguntou-me de seguida, referindo-se ao cachecol do Qatar. Face à minha nega, ofereceu-mo. Com um sorriso ainda maior.

Saímos na central de camionagem (o caos em terra batida) e íamos apanhar novo transporte para o centro da cidade, mas as estradas estavam bloqueadas para a festa. Mesmo com mochilas pesadas, fomos a pé.

Milhares e milhares pelas ruas, orgulhosos com o dia da independência do seu país. Em Portugal, o 10 de Junho é apenas um feriado para muitos irem à praia, aqui vive-se efervescente orgulho nacional.



Nunca vi concentração igual de jipes. O petróleo dá, realmente, para muito. Foi assim que se conquistou o Mundial2022 de futebol, feito ainda bem vivo nos locais.

Ao som de ensurdecedoras businadelas constantes, caminhámos toda a baia, em quilómetros sem fim. Sheiks e sua trupe trajados a rigor, senhoras de burkha aos saltos e as que mostravam o rosto (mas com cabelo tapado) com bandeiras do Qatar estampadas em cada face.

A fome apertava e, enquanto caminhávamos, buscávamos comida. Em vão. Uma festa de arromba e NADA para comer em lado algum. A polícia sugeriu-nos ir até à imponente zona dos arranha-céus, que tinham vários restaurantes, mas, lá chegados, NADA. Ao longe, estas torres têm um efeito fantástico. No terreno, um local sem alma. Dinheiro, luxo, mas ausência total de alma.

O foto de artifício a cobrir toda a extensa baía foi imponente, mas nada que se compare aos nossos. Faltou-lhe “cor”. O fogo do nosso S. João faria corar os senhores do petróleo.



No fim, fomos jantar a um apinhado “souk” e depois, aos empurrões, lá conseguimos lugar num autocarro que nos deixou perto do aeroporto. No meio do transito infernal, não havia sinal de táxis.

Sabíamos que vários aeroportos na Europa estavam fechados devido ao mau tempo. O que nos reservaria Milão?

VÍDEO SENHOR EDGAR

Mais do que as nossas palavras, o vídeo da conversa com um luso-descendente de joviais 79 anos. Note-se que é malaio e nunca estudou português. A sua linguagem é a herdada de há 500 anos...

VÍDEO DA BÁRBARA - Associação Malaca

BARCO QUE VOA, PEDRA FRIA, OLHOS PODRES…


São expressões simples como estas que nos fazem tremer por dentro. Há 500 anos, em Malaca, os portugueses deixaram raízes que perduraram até hoje. Mas a globalização bem como o desleixo e desinteresse total das autoridades portuguesas podem deixar acabar esta história de amor de luso-descendentes pela pátria que sentem como sua, mesmo nunca tendo pisado solo nacional.

Sem qualquer apoio de Portugal, os jovens malaios luso-descendentes esquecem as suas raízes. Entendem o português, mas começa a ser difícil falá-lo. Depois, naturalmente, virá o esquecimento total… e Malaca passará definitivamente à História.

Barco que voa (avião), pedra fria (gelo) ou olhos podres (olheiras) são expressões que pudemos ouvir dos senhores Pedro e Edgar, ambos septuagenários, e que orgulhosamente falam e vivem a sua portugalidade.

Impossível não nos emocionarmos com estas manifestações de afecto à pátria de gente simples do outro lado do mundo que apenas sonha em não ser esquecida deste lado do Atlântico.

Não é complicado, nem dispendioso ajudar esta gente, uma comunidade essencialmente piscatória de cerca de 1.300 elementos. Precisam de coisas tão simples como livros, manuais escolares ou roupas apropriadas para os quatro ranchos folclóricos que dançam e cantam temas portugueses. E meios para financiar diversos projectos, que a Bárbara tão estoicamente tem promovido.

A ASSOCIAÇÃO CULTURAL CORAÇÃO EM MALACA e o blogue povos-cruzados.blogspot.com têm feito o trabalho que as autoridades nacionais teimam em esquecer, mas ainda há esperança de manter e recuperar laços seculares com parte da nossa história mais brilhante enquanto Nação.

Quem quiser, puder ou souber de alguma forma de ajudar (qualquer apoio é mais do que bem vindo), basta contactar a Bárbara através do blogue ou da associação. Ou do facebook. A Associação Malaca está nos meus amigos.

Mal seja possível, teremos vídeo da Bárbara na primeira pessoa.

PORTUGUESE SETTLEMENT - MALACA


Tivesse a retirada sido feita por outro caminho e a nossa visita à comunidade portuguesa de Malaca ficaria claramente aquém das nossas expectativas.

Disse ao Zé Luís que estava na hora de retirar e furei por um novo caminho para o regresso à estrada principal quando uma doce, mas determinada voz feminina nos interrompeu.

“São portugueses?”, questionou Bárbara, com um sorriso do tamanho da sua simpatia. Imediatamente nos aproximámos, foram feitas as apresentações e em segundos a conversa já estava encadeada, sem fim à vista.

A pressa de seguir foi substituída por tranquilo almoço no restaurante do senhor Pedro (malaio, mas com raízes e alma lusitana), ao surpreendente som de cantares alentejanos.

Juntamo-nos à mesa com mais três professores locais – uma das docentes falava igualmente perfeito português – e ficámos a conhecer o trabalho da Bárbara, a ASSOCIAÇÃO CULTURAL CORAÇÃO EM MALACA, da qual é grande impulsionadora. http://povos-cruzados.blogspot.com/

Em minutos, parte da comunidade foi desfilando pelo restaurante e ficámos impressionados como malaios luso-descendentes que jamais estiveram em Portugal, mas falam a nossa língua, “vestem” os nossos costumes e sentem amor impressionante pela pátria.

Mais surpresos – ou talvez não – com o esquecimento, ostracismo a que esta comunidade de cerca de 1300 elementos é vetada por Portugal. Mais uma vez, a história das autoridades que tanto esbanjam em projectos de interesse duvidoso e que nada fazem para preservar a herança desta gente, a nossa gente, fiel há 500 anos, que se completam em 2011.

(Aguardo pelo Carlos para fotos do momento lol)

domingo, 19 de dezembro de 2010

MALACA



Estar em Kuala Lumpur e não ir a Malaca é ainda mais grave do que ir a Roma e não ver o Papa. Não quisemos cometer esse vil pecado.

Garantiram-nos que em apenas duas horas estaríamos lá. É verdade, não fosse o facto de, antes, termos de apanhar o mono-rail e depois o comboio até à central de camionagem, já na zona periférica de Kuala Lumpur. E, chegando a Malaca, ainda tivemos de apanhar mais um autocarro…

Património Mundial da UNESCO desde 2008, destaca-se da presença portuguesa “A Famosa” (a Porta de Santiago da Fortaleza de Malaca), um dos locais mais visitados e requisitados para fotografias, e a igreja de São Paulo.

Sentir a nossa história do outro lado do mundo tem sempre um significado especial. Mostra-nos como fomos empreendedores e determinados quando o mundo, enquanto conceito global, ainda estava em fase embrionária, de descoberta. Pena que nesta pátria tantas qualidades se tenham diluído, com o tempo e ambição de mentes menores.

Sob persistente chuva, percorremos a zona a pé e as t-shirts que envergávamos, propositadamente alusivas a Portugal, foram pretexto para sermos abordados várias vezes. Esta gente não esquece a passagem lusa por estas terras…



Gostei particularmente dos folclóricos riquexós, densamente ornamentados com coloridas flores e todos – sem excepção – com música própria, qual delas a mais imprópria para os nossos ouvidos ocidentais. Mas perfeitamente adequada para o cenário.

Foi em 1511 que Afonso de Albuquerque partiu de Goa (Índia) com cerca de 1.200 homens e perto de 20 navios para conquistar esta base estratégica para a expansão lusa nas Índias Orientais. Em 1641 os holandeses correram connosco, até cederem Malaca aos ingleses em 1825, por troca com uma outra cidade que lhes interessava mais, na ilha indonésia de Sumatra.

Kuala Lumpur




Abandonar Bali foi complicado. Não só pelo amargo de quem sente que havia muito mais para descobrir e experienciar, mas igualmente pelo trânsito infernal que pára a ilha a determinadas horas. Foram duas para fazer meia dúzia de quilómetros até ao aeroporto. Tivemos, por isso, de sacrificar a visita ao mais belo dos templos de Bali.

O atraso no voo fez com que chegássemos a Kuala Lumpur muito tarde. Na caminha só às 03:30, mas horas depois já estávamos a explorar a pujante capital da Malásia.

Quando unidos, calor e humidade fazem boa dupla para infernizar a vida ao viajante/turista. Só de ar condicionado se consegue aguentar alguns momentos. Mas é preciso mais do que isso para nos travar.

Desta vez, a festa na cidade foi madrasta para nós. A realização de importante prova automobilística na zona nobre da “confluência enlameada” (significado malaio para Kuala Lumpur, referindo-se à junção de dois rios, há século e meio pejados de minas) fez com que esse lado nos fosse vedado. Autenticamente. Tudo protegido até aos dentes para que o Grande Prémio da Malásia corresse na perfeição.

Foi de mono-rail que vimos parte da pujança do “tigre” asiático. Nada como apreciar das alturas uma ampla cidade que cresceu para o ar como poucas. Sobram exemplos de arquitectura arrojada e futurista, mas a que mais nos impressionou foram as torres Petronas, um dos edifícios mais altos do mundo, com 452 metros distribuídos em luminosos 88 andares.



Ao longe ou “cara a cara”, é impressionante a projecção deste “monstro” inventado pelo arquitecto argentino César Pelli. À noite, torna-se incomparável. Tem uma “luz” especial…

As torres da petrolífera malaia ficam na zona do triângulo dourado, onde Kuala Lumpur tem mais vida. Dia e noite, com um ritmo ímpar. Foi aí que nos instalámos.

O bairro chinês, que pudemos percorrer a pé, à noite, quando tem mais interesse, pelo seu animado mercado que funciona até tarde, é outro dos muitos motivos de interesse de uma cidade que exibe modernismo como poucas.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

BELEZA INTERIOR


Bali é como alguns humanos, também tem beleza interior. E foi motivados por essa descoberta que alugámos carro com motorista. Acabámos por perceber que foi, sem dúvida, a melhor opção. Nas estreitas e sinuosas estradas não há regras. Vale tudo. Todos ao monte e fé nos três deuses hindus (a Indonésia é maioritariamente muçulmana, mas Bali é uma ilha também em termos religiosos).

Ubud é opção para um turismo de desprezo pela praia e devoção à natureza. Como tudo na ilha, já muito comercial. Demasiado. Foi interessante a experiência com os macacos (às centenas num parque central, sem vedação e em contacto permanente com os visitantes). Um dos atrevidos no Mandala Wisata Wenara Wana viu volume no bolso dos meus calções e tentou roubar o que suporia ser comida. Não conseguiu. Ajudei-o e libertei-o do botão-obstáculo. Apenas encontrou um colorido mapa de Bali. Não ficou desapontado. Aliás, mais dois macacos vieram disputar a relíquia, que segundos depois já estava rasgada em pedaços mil.



Os terraços de arroz também são muito interessantes, embora seja uma paisagem “pequena”. É um feliz oásis na ilha em que é difícil ter privacidade. São dois milhões de balineses numa ilha pouco maior do que o Minho.

Em Kintamani, um vulcão imponente desliza suave até a um lago em cujas margens se situam pequenas, mas deliciosas povoações. Também aí, o comércio está ao rubro, com vendedores de rua a perseguir os turistas na tentativa de despachar qualquer coisa.

No meio de todo este encanto, pena que aqui também impere a corrupção da polícia. Nas barreiras por onde íamos passando, lá ía ficando uma nota.
“Senão, criam-me problemas constantes sempre que aqui passar”, confessa-nos o motorista.

PRIMEIRO IMPACTO EM BALI


Até à Europa e resto do mundo chegam apenas imagens de estonteante beleza. Bungalows sobre cristalinas águas guardados por esplendorosas palmeiras, vulcões imponentes, SPA's que nos levam a outro mundo... No terreno, Bali não é apenas o conto de fadas que é vendido como sonho inigualável.

Optámos por Kuta. Onde atracam boa parte dos australianos e alguns japoneses. Os europeus vão para outras zonas da ilha, asseguraram-nos.

O 100 Sunset Resort revelou-se uma excelente escolha. Apanhámos um apartamento por um terço do preço habitual (investimos “apenas” 75 euros por noite para um apartamento amplo e luxuoso com varanda para a deliciosa piscina).

O pessoal do hotel, do mais simpático possível. À parte disso, um cocktail de oferta à entrada, bem como uma massagem aos pés, a receber junto à piscina, sob uma queda de água. Tirámos o devido proveito das instalações geridas por um jovem francês.

Legian é a rua onde todos vão parar. Bares, discotecas, restaurantes e lojas sucedem-se a ritmo vertiginoso. Tal como os turistas. Aliás, foi aqui que há uns anos um atentado matou mais de uma centena. Uma das vítimas era portuguesa. No local foi erguido um memorial com o nome de todas as vítimas. Que o monumento seja fotografado, tudo bem. Agora que as pessoas se metam na fotografia com um sorriso de orelha a orelha (não vejo o prazer de recordar dessa forma um acontecimento trágico) é que já ultrapassa a minha compreensão. Adiante...

A temperatura da água do mar varia entre sopa e chá. Debatemos apaixonadamente o assunto, mas não chegámos a uma conclusão. Limitámo-nos a gozar o momento. Giro o facto de ser proibido nadar, sem que praticamente houvesse ondas. Fizemos ouvidos moucos. Divertimo-nos à grande.

MISTERIOSA MALA


“Sabem onde posso carregar o telemóvel?”, perguntou a jovem. Olhámos uns para os outros, encolhemos os ombros e, como bons portugueses, demos várias sugestões, mesmo não fazendo a minima ideia da resposta adequada.

“Estás a chegar ou a partir de Darwin”, questionei.
“Nem uma coisa, nem outra. Porquê?”, indagou.
“Estás com a mala...”
“Hã... isso é porque receio que ma roubem”, esclareceu.

Bom, esta doce menina não batia certamente muito bem da bola. Pelo andar, percebemos que a mala pesava. E não era pouco. Estava no mesmo hostel que nós, onde deixámos o portátil e outros objectos de valor no quarto. Pois bem, esta australiana de Brisbane nem a mala fechada a cadeado arrisca a deixar no quarto.

Deu para nos rirmos um pouco. As nossas manias, comparadas com esta, são queijo...

DARWIN


Os australianos têm reconhecida fibra, mas os do Território do Norte parecem ainda mais duros de roer. Darwin, que não prima pela beleza estética ou animação, é bom exemplo disso.

Na II Guerra Mundial foi arrasada pela aviação japonesa. Reergueu-se, reprojectada. Em 1974, o ciclone Tracy mostrou o que arrasadores 250 km/h podem fazer. Voaram 9.000 casas e morreram mais de 60 pessoas. Tudo tranquilo, reorganizaram-se ainda mais fortes.

Instalámo-nos na rua mais animada da cidade – polvilhada de bares e restaurantes – e fomos ao Monsoon, onde um um grupo tocava ao vivo. Demasiada qualidade para o número de pessoas na plateia.

No dia da partida, que era apenas ao fim da tarde, descobrimos o melhor de Darwin: Waterfront. Uma zona residencial de excelente nível, com um jardim cativante e uma piscina publica com praia e ondas artificiais, nas quais até se fazia bodyboard.

Excitados, fomos almoçar de imediato, buscar o carro, trocar de roupa e mergulhar naquela maravilha. Instalados em belas bóias, navegámos horas sem fim. A subir e descer constantemente, ao sabor das ondas. O descuido valeu uns escaldões que esperemos já sejam passado em Portugal.

Em zona tropical como esta, as tempestades não são assim tão invulgares. O céu transbordou de cinzento até cascatas de chuva correrem com a malta do complexo. Fomos os últimos a abandonar o navio... Aliás, fomos corridos do complexo.

Ainda húmidos, rumámos ao aeroporto, devolver carro, trocar roupa, mais 1001 burocracias para sair do país e novo voo...

TOURIST VIP REST HOTEL


Acertar com a entrada do parque/recepção apenas à terceira tentativa foi o melhor que nos aconteceu neste “oásis” do outback. Ainda estamos para perceber como um local destes está associado a alguma organização credível de estadias na internet. Adiante...

O resultado da pesquisa para Tennant Creek resumiu-se a este belo pardieiro – safavam-se os quartos, não muito grandes, mas limpos, com frigorífico e ar condicionado – gerido por um velhote meio surdo, com pronúncia indecifrável e de humor pouco social.

Todo o tipo de bicharada – as catatuas e papagaios faziam parte do “zoo” privativo – que voe e rasteje estava bem representado neste local de culto para os “Very Innocent People” (VIP), como nós. Por falar em rastejar, na cozinha um grande cartaz avisava para as 10 cobras venenosas que se podem encontrar na zona. Animador...

Já a tentar dormir, um grupinho misto no quarto ao lado fez festa até alta noite. Agradecidos, não podíamos ficar atrás. Tirámo-los da cama apenas um par de horas depois.

O prometido pequeno almoço não passou disso mesmo: aliás, curioso o facto do check out ser obrigatório até às 10:00, mas só a partir das 11:00 estar “alguém” na recepção. Será que o breakfast se fazia sozinho e não sabíamos?

Bom, o sol ainda esfregava os olhos e já estávamos na estrada para mais 1.000 quilómetros, que fizemos sem grande sofrimento, com almoço e passeiozinho por Katherine.

No meio do espanto pelas inesperadas belas paisagens, escapou-se-nos a “árvore Stuart”, em Daly Waters. Stuart, um explorador soldado escocês, foi o primeiro a cruzar o continente australiano, em 1862. Saiu de Adelaide e chegou ao Mar de Timor. Em Daly Waters, perdido e numa altura em que pensava que não ia sobreviver ao outback, gravou o “S” do se nome num eucalipto gigante.

Os poucos que se aventuram de carro nestas paragens ainda podem apreciar a sua escassa caligrafia.

TENNANT CREEK


Os 400 quilómetros entre Ayers Rock e Alice Springs não nos satisfizeram. Nas viagens pelos vários continentes, estamos habituados a conduzir por locais remotos, algo que nos dá um gostinho especial.

Foi assim que prescindimos de voar 1500 quilómetros até Darwin num par de horas para fazer essa viagem por terra durante dia e meio. Valeu a pena.

Afortunado pelo nível invulgar de chuva, o Território do Norte ganhou uma nova beleza e isso redobrou o nosso prazer na estrada. Face às grandes distâncias entre os poucos povoados, é raro encontrar carros pelo caminho. Aliás, imponentes camiões de três atrelados foram a nossa companhia mais regular. Podem ter até 52,5 metros de comprimento...

Abandonámos Alice Springs às 16:00 e decidimos experimentar Tennant Creek para pernoitar. Chegámos umas cinco horas depois. E a surpresa não foi das melhores...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

ISTO É “TUDO NOSSO”


Onde estão as pizzas?”, perguntei, pensando que nos teríamos, mais uma vez, esquecido de algo.

No frigorífico”, responderam, em uníssono, Carlos e Zé Luís.

Tive dificuldades em parar uma longa gargalhada. Realmente, isto parece tudo nosso.



Sempre que é possível e o rombo não é imoral, procurámos internet. Em Alice Springs, a escolha recaiu na Pousada da Juventude. 10 dólares e podemos estar ligados 24 horas. O “problema” é que temos de estar num hot spot. Ou seja, temos de estar no local onde contratamos o serviço.

Havendo muitas coisas que precisávamos fazer/ver na rede global, instalámo-nos pelo tempo suficiente para ter fome. Lá fomos ao supermercado. À “patrão”, trouxemos ingredientes suficientes para cozinhar. Em casa alheia. Como se isso não bastasse, convidámos o Miguel. Travámos ainda confiança com um casal italo-francês. Educadamente, não podiam comer gelado e assim deixaram os habituais dois quilos de cookies apenas para nós os quatro. Lá fizemos o sacrifício.

Na manhã seguinte ainda voltámos. Mesmo sabendo que não estávamos lá instalados – a menina fez-nos a reserva para o nosso poiso seguinte e ficou esclarecida – as recepcionistas já os cumprimentavam como se fossemos dos melhores hóspedes do mundo.


Apenas para que conste: há meio século, Alice Springs tinha apenas 4.000 habitantes e não havia visitantes/turistas. Em 1954 a festa acontecia quando o comboio semanal vinha de Adelaide com o correio, jornais, filmes e peças para automóveis. Era um acontecimento que juntava toda a parca população.

A cidade que deve o nome à mulher do director de telégrafos de Adelaide mudou muito: agora anda perto dos 30.000 habitantes e por ano recebe mais de 400.000 turistas. Em boa hora contribuímos para a média. Vale bem um saltinho.

ALICE SPRINGS


Apesar de distar de algo mais de 400 quilómetros de Ayers Rock, Alice Springs costuma ser a cidade que serve de base a quem visita o Uluru. Claramente mais barata e com uma vida que Ayers Rock decididamente não tem. É outback puro.

As cinco horas de viagem terminaram com a primeira observação de aborígenes, alegadamente no funeral de um dos seus. Estavam reunidos no cemitério à entrada da cidade.

A segunda maior cidade do Território do Norte (a seguir a Darwin) está muito vocacionada para o turismo. Os seus 28.000 habitantes vivem dos que procuram experiências diferentes e oferecem-lhes tudo o que podem desejar para que a estada seja recordada. Sobram igualmente as lojas de souvenirs, mas curiosamente, foi aqui, onde havia a maior oferta, que nos baldámos completamente.

Simpsons Gate foi o primeiro passeio escolhido fora da cidade. Um local muito aprazível, com a montanha a ser abruptamente interrompida. Mas apenas uns 15 metros, até continuar, imponente.

Seguimos depois para Standley Chasms em busca de piscinas naturais, mas, à entrada do complexo privado, os funcionários comunicaram-nos que estavam a fechar. Antes da hora, mas tudo bem... tentámos voltar no dia seguinte, mas acabámos por perceber que as piscinas naturais ficavam, afinal, um pouco mais distantes. Como ao terceiro dia em Alice Springs íamos partir para norte (500 quilómetros até Tennant Creek), optámos por não o fazer.

Miguel Freitas, um bacano madeirense que viveu muitos anos em Lisboa e ano e meio em Sydney até se radicar em Alice Springs, foi o nosso cicerone. À noite, levou-nos a três dos melhores bares. Curtimos boa música ao vivo no Rock's, seguindo-se pezinho de dança no Bo's Jungles. Estávamos mesmo a precisar.

O Miguel também estava a “morrer” por comida portuguesa. Ainda duvidou nas nossas capacidades, mas foi vê-lo qual “leão” a aprovar as duas iguarias que lhe apresentámos. Retribuiu a gentileza com uma fantástica posta de Corn Beef. Com puré e um molho à maneira.

Apesar de estar há dois meses a viver em Alice Springs, fomos nós a mostrar-lhe os primeiros kangurus. Às 17:30, como prometido, no parque junto ao telégrafo onde fizemos umas boas caminhadas. Foi muito interessante avistar uns 25/30 kangurus em ambiente puramente selvagem.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

DURA REALIDADE


Duas velhotas aborígenes sobem ao palco e dançam junto ao grupo, igualmente aborígene, que animava a noite de Alice Springs. Polícias tentam retirá-las do local, mas vão resistindo. As autoridades insistem. Contrariadas, acabam por descer os oito degraus de forma cambaleante. Uma cai a meio, mas sem consequências de maior.

A uns 20 metros, um idoso tomba de costas e perde os sentidos. Sangra pela cabeça. Ninguém muito preocupado. Os aborígenes não ligam a um dos seus, os brancos da organização chamam os paramédicos, mas parecem já demasiado habituados e cansados do cenário. Tudo sem alarme, curiosidade ou alarido. Há um dejá vu demasiado frequente.

Estes três aborígenes, aleatoriamente escolhidos no nosso raio de visão, têm em comum excesso de álcool no sangue. O mesmo problema da quase centena que ocupa a improvisada pista de dança. Entre novos e velhos, não se vislumbra um sóbrio. Em circulo mais alargado, observadores, alguns turistas ainda têm dificuldades em acreditar nesta realidade.



Toda a Austrália está virada para o turismo e, mesmo tendo em conta os inúmeros lugares naturais de sonho, a presença aborígene é constante. Vende mais do que tudo. Boomerang's, telas, t-shirts...

Apesar de tudo isso, só na muito isolada Alice Springs, no centro do país, pudemos finalmente contactar com este povo, aqui muito enraizado. A verdade é que não foi bonito. Este episódio foi apenas um dos inúmeros a que pudemos assistir. Na primeira noite em que saímos, um canadiano, igualmente alcoolizado, foi violentamente atacado por cerca de 20 aborígenes quando urinava junto a uma gigantesca árvore de natal. Coisas...

Os aborígenes são muito mais sensíveis do que o Homem branco a doenças, taxas desemprego, suicídio, mortalidade infantil... perdem em todas as avaliações. Ficam 20 anos atrás em termos de esperança média de vida.

A sua estrutura genética torna-os vulneráveis ao álcool. O organismo não tem defesas para este mal. O álcool tem neles o mesmo efeito que as drogas duras nos restantes humanos. As Gerações Roubadas resultaram neste enorme flagelo.

Mesmo sem trabalhar (é assim com a esmagadora maioria dos aborígenes), o Estado compensa-os com inúmeras regalias sociais, que um normal contribuinte inveja. Faz parte do reconhecimento de que a Austrália efectivamente lhes pertencia, bem como todas as suas riquezas. E um grande sentimento de culpa...

A triste realidade é que o dinheiro se evapora literalmente em bebidas alcoólicas. Face a este grave problema, a sociedade aborígene tem um limite estipulado por lei para o consumo diário de álcool, mas todos os esquemas possíveis são tentados para tornear as regras. Geralmente, condenado ao fracasso.

Nas ruas, vagueiam com olhar vazio. Andam vestidos, mas não há um cuidado, um esmero. Fica igualmente a forte convicção de que não têm noções de higiene pessoal. Boa parte desta comunidade não é autorizada a entrar em bares, restaurantes... não são desejados pela comunidade branca local.

É uma questão demasiado complicada para olhos estranhos como os nossos poderem ajuizar em tão pouco tempo e escasso conhecimento de causa.

Há mais de um século, uma observadora jovem aristocrata inglesa resumiu como poucos a questão aborígene: “O nativo australiano consegue suportar todas as contrariedades da natureza – secas demoníacas, dilúvios impetuosos, horrores da sede e da fome forçada – mas não consegue suportar a civilização”.

GERAÇÕES ROUBADAS


A questão aborígene é o grande falhanço da sociedade australiana. Que persiste. Entre 1910 e 1970 registou-se uma tentativa do governo de tirar as crianças aborígenes da pobreza e

desvantagem. A radical solução foi afastá-las fisicamente da família. Cerca de um terço das crianças aborígenes terão sofrido com esta medida. Para “minorar” a dor, era-lhes dito, entre outras coisas, que a família já não as queria ou que os pais tinham morrido. Os nefastos efeitos sociais são incalculáveis. Persistem e serão irremediáveis (os problemas com álcool, que afectam todas as gerações, parecem não ter solução).

Na verdade, até aos anos 60 os aborígenes não tinham sequer a custodia legal dos próprios filhos.

Depois de “educados”, os jovens adolescentes precocemente arrancados às suas famílias procuravam integrar-se na sociedade, que invariavelmente os encarava com preconceito.

Muitos voltaram então para as terras de onde eram originários, mas completamente desenraizados da sua cultura.

Ate 2000, só dois aborígenes chegaram ao parlamento (desconheço os dados após essa data). Não se vêm em qualquer actividade produtiva. Bancos, comercio, correios, supermercados…

ABORIGENES


Segundo as estimativas mais credíveis, os aborígenes chegaram à Austrália há uns 60.000 anos. Muito antes do Homem moderno na Europa ou Américas. Não têm parentesco racial ou linguístico.

Sobram as teorias sobre a sua origem, mas faltam provas irrefutáveis. Todas as hipóteses defendem que chegaram por mar... mas será que dominavam as técnicas de navegação, conhecimentos náuticos que só 30 000 anos depois outros povos tiveram? E se assim fosse, porque se esqueceriam depois do mar? Os entendidos continuam a discutir a matéria...

A verdade é que foram donos e senhores da Austrália durante 97,7% do tempo em que esta foi ocupada. O Homem branco europeu apenas a domina há 0,3% desse período, o suficiente para praticamente destruir a citada cultura preservada mais antiga do mundo, este povo.

O navegador James Cook, que aqui chegou em 1770, escreveu no diário do Endeavour: “Para algumas pessoas pode parecer o povo mais miserável da terra, mas na realidade são muito mais felizes do que nós, europeus. Vivem uma tranquilidade que não é perturbada pela desigualdade da condição: a terra e o mar, por iniciativa própria, fornece-lhes tudo o que é necessário para viver.

Parecem não atribuir valor a nada do que lhes damos e nunca renunciam a nada do que têm”.

Num outro ponto, acrescenta: “Tudo o que parecerem querer de nós é que nos vamos embora”.

Em pleno século XX, eram ainda vistos como sub-humanos. Na verdade, nos anos 60, eram definidos nos manuais escolares como “criaturas bravias da selva”. Em 1967 não entraram nos sensos, pois não eram reconhecidos como habitantes.

Quando James Cook chegou à Austrália, estima-se que fossem entre 300 mil a um milhão. Sem resistências a doenças trazidas pelos colonos, não seriam mais de 60 mil em 1800, apenas 30 anos depois.

Desde inicio, foram tratados de forma cruel e desumana: retalhados para comida para os cães, abatidos, até para caça. Matar aborígenes não era crime. Até lhes ofereciam comida envenenada...

Em 1838 o jornalista Edward Smith Hall denunciou essas práticas e o governador George Gipss levou um grupo de prevaricadores a tribunal. Foram absolvidos em 15 minutos. Entretanto a campanha continuou nos Media e houve novo julgamento. Sete brancos foram enforcados em Myall Creek.

Ainda assim, a matança de aborígenes não acabou. Tornou-se apenas mais clandestina. Em determinada altura, a morte de um caçador branco de dingos (cães selvagens) levou a que a enraivecida população chacinasse, sem qualquer sentido, uma pacífica comunidade aborígene de uns 100 elementos, maioritariamente constituída por mulheres e crianças.

ULURU


Numa paisagem muito plana e surpreendentemente verde, os tons alaranjados do Uluru sob o cristalino azul do céu provocam um impacto ainda maior nos visitantes (dizem que são 400.000 por ano, mas a verdade é que nos dois dias em que lá fomos não teremos visto mais de 250, o que estraga a anunciada média).

Mal saímos de Ayers Rock, começámos a ver a imponente rocha, que estava ainda a uns 20 distantes quilómetros. Curva após curva, ia ganhando forma e dimensão. Não resistimos a fotos precoces, apanhando cada ângulo novo que se nos deparava no horizonte.

Finalmente, chegámos à sua base. Enfrentámo-la com espanto. É efectivamente grande. Monstruosa. Bela. Imponente.

O verde caminho pedestre em torno do Uluru tem 10,6 quilómetros. Sob o calor que verga, é aconselhável beber um litro de água por hora. O mais normal é esta aventura exigir cinco. Hummm... peso a mais. E não achámos que fizesse muito sentido.

O Mala walk tem apenas dois quilómetros. Foi essa a opção ao final do primeiro dia. No segundo pôr do sol que fomos contemplar ao Uluru, fizemos parte do Lungkata, com o dobro da distancia. A rocha é disforme consoante a perspectiva que dela se tem.

Ainda em Portugal, já sabíamos que não íamos subir o Uluru. Há quem o faça, mas isso é um desrespeito total para o povo aborígene. Após a vida térrea, a sua alma repousa aqui. Caminhar sobre o túmulo de outros não é propriamente a melhor forma de os homenagearmos.

O que surpreendeu foi o aviso com o pedido para não subirmos (com tantas regras castradoras na Austrália, não custava proibir esta aventura) e na face principal do Uluru ter uma espécie de corrimão para auxiliar os prevaricadores. Sem sentido.

Ao segundo dia, andámos também no Kata Tjuta. Não se trata de um, mas de vários rochedos. Igualmente um lugar sagrado para aborígenes. Sob o tal calor implacável, fizemos o Walpa Gorge e parte do Winds walk.

O Centro Cultural, na base do Uluru, conta parte da história do povo aborígene. As diferentes nações (a Austrália está dividida em vários países aborígenes), as crenças, o modo de vida. São apresentados objectos do quotidiano e um vídeo, de qualidade ultrapassada, sobre a forma como sobrevivem às adversidades desta natureza rude e exigente.

Sem dúvida, um trabalho perfeito da que é a mais antiga cultura preservada do mundo. Até que chegou o homem branco...


PIONEER RESORT


As hipóteses de estadia não eram muitas. Em comum, todas caras. Para quem já andou por locais bem “impróprios”, optar pelo “assalto” menor não é necessariamente custoso. Foi assim que a escolha recaiu, naturalmente, no pomposo, mas enganador Pioneer Resort.

Um quarto quadruplo era o que tínhamos disponível. Tocou-nos em “sorte” um francês que nos dias em que lá estivemos não saiu da habitação de modesta dimensão. Pagou cinco noites num dos mais caros locais da Austrália para estar amarrado ao portátil dia e noite. Opções...

A cozinha comunitária era deficitária de apetrechos, mas, ainda assim, conseguimos safar-nos. Aliás, o nosso primeiro jantar serviu para almoço/jantar do dia seguinte. Isto porque uma simpática família neozelandesa (não podia ser diferente) cozinhou em dose industrial nessa noite e no fim pediu-nos encarecidamente para os aliviarmos de prováveis problemas de consciência, pelo desperdício. Fizemos-lhes a vontade... Estava saborosissimo.

A jovem filha, que em 2009 viajou nove meses entre Ásia e Médio Oriente, juntou-se-nos mais tarde na piscina. Aliás, este rectângulo revelou-se mágico, pois foi nas suas cálidas águas que passámos boa parte do tempo livre no Pioneer Resort. Algum já bem após as 22:00, hora em que era suposto fechar.

Internet, impossível. Pagar um dólar por seis minutos (sim, apenas seis minutinhos) é mais do que um abuso. Fora de questão.

A primeira refeição ainda a fizemos na esplanada junto à cozinha e pista de dança (diariamente, fomos brindados com musica ao vivo), mas o chão movia-se (autenticamente) e então preferimos inovar e fomos para a climatizada sala de convívio. Muito melhor...



PS: Ahhh!! Já nos esquecíamos. O “mover-se” tem a ver com a dose industrial dos mais variados insectos que rastejam ou voam. Ao fazer a mala para partirmos, o Zé Luís não evitou que alguns simpáticos bichinhos se acomodassem no meio da roupa. Quando a reabrir, veremos quais as surpresas.

No “outback” é assim. E é para quem quer...


sábado, 11 de dezembro de 2010

AYERS ROCK


Logo que do lado oposto os passageiros colaram o nariz à janela, percebi que, desta vez, estava do lado errado do avião. As expressões de espanto sucediam-se a ritmo crescente e não era complicado perceber que as prevaricadoras objectivas (proibidas na fase final dos voos) apontavam ao Uluru, a rocha sagrada do povo aborígene.

Restava-me fazer figas e esperar que o piloto desse meia volta. Quando a asa do meu lado começou a levantar e apenas passei a ver céu, sorri. Ia ter a minha oportunidade.

O A320 da Qantas deu a volta e apontou à pista de Ayers Rock. Não foi mais de um minuto, mas os meus olhos deleitaram-se com aquele sólido alaranjado. Do outro lado, o Carlos pôde saborear o momento durante mais tempo. No lugar colado ao meu, Zé Luís não falava.

Sair do avião e sofrer o impacto de um violento soco de calor não foi agradável. Caminhar uns 50 metros até ao minúsculo hangar ainda deve ter produzido meio litro de suor. A cada um.

O transporte para Ayers Rock (minúscula povoação com três ou quatro unidades hoteleiras, um pequeno supermercado, polícia, correios, bomba de gasolina e três/quatro lojas de souvenirs) era gratuíto, mas essa generosidade ficou-se apenas por aí.

50 dólares é o que cobram aos turistas para os levar a ver o nascer ou por do sol. Uma boleia de uns 20 quilómetros paga a peso de ouro. Ou platina.

Ainda assim, nada como ter liberdade de movimentos, por isso alugámos um carro. Isso deu-nos asas para voar até onde desejássemos. Os estipulados 100 quilómetros por dia não daria para nada (pagaríamos caro os km remanescentes), pelo que pusemos o encanto natural em acção e conseguimos que o limite passasse a 250.

Estávamos prontos...

FRUSTRAÇÃO NO AR


O destino é muitas vezes cruel. Tínhamos, a muito custo, abdicado das Withsunday islands (não havia tempo razoável para podermos usufruir convenientemente dos seus encantos, património natural da UNESCO), mas ainda não sabíamos que seríamos obrigados a sobrevoá-las.

De Brisbane até ao nosso próximo destino éramos obrigados a uma escala. A norte, em Cairns, onde a grande barreira de coral (o maior “ser vivo” do planeta, espalhado numa extensão de cerca de 2.250 quilómetros) se exibe no máximo do seu esplendor.

O lugar de janela foi mais disputado do que nunca. Sob o nossa admiração estavam imagens idílicas.

Estes 300.000 km2 são compostos por 400 espécies de coral. São 3.000 recifes e mais de 600 ilhas. Aqui vivem 1500 espécies de peixes, 4.000 variedades de moluscos.

Ficou prometida uma visita. Claro que sim! Ainda nesta vida.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

PESAR E... BRISBANE


Ainda não estamos refeitos pela opção, não nos conformamos com o sacrifício, mas não tínhamos muita escolha. Queríamos ir a Arley Beach e às Withsunday islands, mas o tempo escasseava e achámos que 14 voos são mais do que suficientes nesta aventura.

Marcámos o próximo destino (propositadamente, não dizemos qual) e fizemos uns 100 quilómetros de comboio para norte, pois íamos visitar Brisbane, de onde voaríamos depois.

Disseram-nos para sair na Roma Station, mas só o fizemos na Central. Rapidamente, percebemos que deveríamos ter seguido os conselhos. Voltámos uma estação para trás, com o mesmo bilhete, já depois de termos passado o torniquete de saída. Sem prevaricar.

Saindo da estação e virando à direita, andámos uns 10 minutos até encontrarmos boa parte dos hostels de Brisbane. Caro por caro, optámos por um com piscina no topo.

Depois de gozarmos um merecido banho com uma vista muito agradável para a cidade, decidimos explorá-la a pé. Como em quase todo o lado, novamente muito bem impressionados. Uma animada “baixa”, um fantástico museu (ainda por cima, gratuito), atravessámos o rio e deparámo-nos com um conjunto de piscinas, algumas dotadas de areia de praia.

A cereja no topo de um excelente dia surgiu já no fantástico parque da cidade, onde largas centenas se dedicavam a manter a forma, seja a correr, andar de bicicleta ou praticar inúmeros desportos.

Andámos quilómetros sem fim. O sacrifício não acabou aí, pois foi complicado acabar com os dois quilos de gelado que tínhamos começado a atacar ao almoço.

O despertador acordou-nos às 04:00. Ía tudo recomeçar...

KANGURU, DIZ-ME SE ÉS MESMO TU...


Cada australiano nasceu com inaptas aptidões de sobrevivência que dão imenso jeito. Paul não foge à regra. É pau para toda a obra.

E que tal um churrasquinho ao ar livre?”, perguntou. Nem precisou ouvir a resposta. Kanguru foi a ementa. Há várias quintas que criam kangurus da mesma forma que os aviários. Neste caso, não são mal tratados em vida, mas acabam invariavelmente retalhados em bifes que são vendidos em todos os supermercados.

Na Austrália, cada pequena comunidade tem ao dispor um ou mais grelhadores/churrascos eléctricos, normalmente no meio de parques. As pessoas usam-nos e deixam-nos tão limpos quanto os encontraram.

A noite estava a cair e levámos todo o material necessário para a experiência. Nem faltaram aves exóticas a vigiar-nos, à procura de alimento. O Paul preparou um molho à “maneira” que deu um gostinho especial ao kanguru, cujo sabor é intenso e não agrada o palato de todos.

Esquecemos a mesa e banco corrido de apoio ao churrasco e comemos mesmo alí, em pé, em animada conversa. Sofia e Paul foram excepcionais...


OBRIGADO, OBRIGADO, OBRIGADO...



Eram seis da manhã em Queenstown (sete no estado de New South Wales, apenas três ruas antes) e tínhamos deixado a Sofia e o Paul nos respectivos trabalhos. Ficámos com o carro deles para dar umas voltas.

Tudo estava fechado, pelo que íamos ver a praia nas primeiras horas da manhã. Apercebemo-nos, então, que ia haver uma espécie de concerto, pois estavam montados dois pequenos palcos. Num instante, percebemos que era o programa Today do canal 9NEWS. Em directo. Ficámos para ver como era.

Não precisávamos ser os melhores observadores do mundo para entender que a tenda dos salva-vidas da localidade oferecia cachorros quentes. E estava disponível para donativos. Veio mesmo a calhar. Umas moedas (apenas vimos outra senhora a dar dinheiro) e lá fomos buscar um cachorrinho. Minutos depois, morfámos o segundo. Ao lado, optei por um chá orgánico, enquanto o Zé Luís e o Carlos preferiram cafés XPTO. Sim, também à pala.

Enquanto esperávamos pela bebida, fomos brindados com um saco que continha um maravilhoso iogurte, cereais e... desodorizante.

Satisfeitos com a inesperada e sempre bem vinda hospitalidade, fomos guardar os presentes ao carro, mas no caminho tivemos de nos desviar três metros para recolher um batido de meio litro. Ao mesmo preço...

Ouvimos a actuação de um grupo que lidera o top de vendas da Austrália – esquecemos o nome do grupo, mas não a violinista asiática – e, como o sol começava a queimar, agradecemos os dois bonés diferentes oferecidos pelo 9NEWS.

O dia começou bem e ainda nem imaginávamos o feliz engano a nosso favor no santuário de vida animal.

LUCKY GUYS




Não podem entrar sem este autocolante no peito. Ponham-no e mantenham-se unidos. Vamos”.

Estas indicações deixaram-nos confusos, mas, intrigados e curiosos, seguimos o simpático senhor.

Estávamos à porta de um santuário de wild life a alimentar simpáticos e atrevidos pássaros multicoloridos. Discutíamos se íamos mesmo entrar, pois 49 dólares “é dinheiro” e já tínhamos usufruído de experiência fantástica com peixinhos, aves e animais terrestres em Sydney.

Está um a mais, mas não deve haver problema. Vamos a uma apresentação de 20 minutos e depois vamos ver crocodilos, koalas e Kangurus...”, acrescentou.

Ficámos ainda mais intrigados e começámos a pensar que algo estaria... errado. Estava uma pessoa a mais no grupo, mas nós éramos... três! Significa isso que outros dois tinham ficado algures...

Pegámos em cobras, sentimos a textura de um lagarto e vimos uma ave com enorme boca de sapo. No fim, como prometido, lá fomos aventurar-nos pelo parque, tão diversificado e grande que tinha um pequeno comboio para transportar os visitantes pelas diversas zonas.

Leandro era brasileiro e estudava inglês em Byron Bay. Por ele, ficámos a saber que o grupo era formado por estudantes de todo o mundo que faziam o mesmo na sua escola. Como eram de várias turmas, não se conheciam entre si.


Moral da história: fomos, de alguma forma, confundidos e só mais tarde percebemos o filme.

Aproveitámos a benesse, almoçámos com o grupo e depois seguimos a nossa vida, enquanto os estudantes voltaram no autocarro da escola para Byron Bay.

Foi inesquecível estar cara a cara com kangurus, com quem “privámos”. Pudemos tocar-lhes e, se quiséssemos, até abraçá-los. Quanto ao gigantesco crocodilo, não gostava de o encontrar num rio. Os koalas dormem umas 20 horas por dia e são muito lentos e pachorrentos, para não gastar a pouca energia que a sua pobre dieta lhes fornece. Ainda assim, fomos felizardos e vimos vários em acção. Incluindo crias.

Sabendo o que soubemos no fim da visita – que incluiu múltiplas aves, cobras e vários outros animais – os 49 dólares seriam muito bem aplicados.

BYRON BAY



O local já me tinha sido amplamente recomendado por mais do que uma pessoa. Era domingo, o tempo estava mais do que duvidoso, mas havia um mercado que não poderíamos falhar, garantiram-nos Sofia e Paul.

Efectivamente, passámos aqui um excelente dia. O mercado era divino e o ambiente alternativo, hippie, não poderia ser mais cativante. Respirava-se “boa onda” por todo o lado. E, aparentemente, drogas não entravam no menu. Perfeito.

Ouvimos actuações musicais, vimos danças exóticas e convivemos com gente simples, feliz. Sem tempo.

Uma amiga australiana da Sofia e do Paul juntou-se-nos com o seu português de bom nível (ainda assim, aquém do apresentado pelo Paulo, que, por amor, viveu um ano em Portugal) e as saudades da terra de Camões.

Voltei agora de dois meses lá. Engordei nove quilos”, lamentava.

Garantimo-vos, solenemente, que cada grama alegadamente a mais parecia muito bem aplicada.

Almoçámos sentados no chão, na relva, a beber sumo de cana e a contemplar novo espectáculo sedutor, a 15 metros do nosso olhar.

James Cook, que em 1770 reclamou esta terra para a coroa britânica, foi o primeiro a andar por estas paragens. Vimos algumas das coisas que registou no seu diário.

Na praia, aplicámo-nos a tirar fotos engraçadas. Coisas de teenagers...

Antes de regressarmos a casa, ainda batemos uma sorna (pelo menos foi o que fiz) num vigoroso relvado na praia com vista superior para o mar.

PRIMA DA PRIMA DO MEU CUNHADO...



Desta vez, a inspecção para entrarmos na Austrália pareceu-nos bem menos rigorosa, pelo que alguns itens proibidos acabaram mesmo por passar. Sem stress ou risco de multa, pois anunciámos que trazíamos material de “risco”. Bom, ainda assim, trata-se apenas de comida, sementes e pedrinhas recolhidas nos glaciares Franz Joseph e Fox.

Cá fora, ligámos à Sofia e minutos depois lá vinha, sorridente, acompanhada de Paul.

Como diz o título, a Sofia é prima da prima do meu cunhado, o Francisco, casado com a minha irmã, a Isabel (Helena para os amigos).

Logo no facebook, por onde a contactei, mostrou uma alegria e vivacidade anormais e que confirmámos na plenitude nos dias em que nos albergaram. Kingscliff, a 100 metros do mar, com saída privativa para o “creek”, com corrente que variava com os humores da maré.

À disposição têm pranchas de surf e material de snorkling”, disse-nos. Sorrimos.

A chuva julgava que nos abatia, mas enganou-se. Apenas nos alterou substancialmente os planos. Mas nem por isso nos divertimos menos. E assim o primeiro dia foi passado a conhecer parte de um parque nacional afamado na região e a nível nacional. Ainda não temos a certeza se é um dos elogiados pela UNESCO.

Completamente encharcados, mas felizes, continuámos a divagar pela estrada até encontrarmos algo que seria impossível em Portugal: é frequente na berma das estradas os agricultores montarem uma banca onde vendem fruta e legumes. O preço está assinalado e há uma balança para pesar os produtos.

Até aqui, tudo normal, não fosse o agricultor estar na sua vidinha, sem a preocupação de receber os potenciais compradores. São os próprios clientes a escolher o que desejam. Pesam e pagam.

Qualquer um pode prevaricar, pois falta a vigilância. No entanto, ninguém o faz. É uma questão cultural. Há inúmeros princípios morais que os australianos se recusam a quebrar. Por formação. Quem age contra a natura e o bem comum, costuma pagar bem caro pela desfaçatez. Faltam exemplos destes na “tugaria”. Também por isso, afundamo-nos a pique enquanto projecto de país...

TRAIÇÃO


As praias australianas são invulgarmente belas, atractivas e por isso estão entre as mais famosas do mundo.

Ainda assim, também é verdade que este reconhecimento internacional nem sempre deriva das melhores razões. Por exemplo, a norte da Gold Coast, na região de Cairns, onde impera a idílica

grande barreira de coral, aquela palete de hipnotizantes azuis é proibida ao banhista. A menos que este goste de tubarões, ainda assim dos perigos menores desta região, polvilhada de belos animais mortíferos, entre os quais o delicioso polvo de tentáculos azuis, uma iguaria letal.

Nos anos 90, na famosa Buondi Beach, em Sydney, num dia calmo e solarengo, quatro ondas de oito metros levaram cerca de 200 incautos banhistas. Valeu que havia 50 salva-vidas em serviço (na Austrália esta é uma profissão tão desejada, como exigente e bem recompensada monetariamente) que resgataram quase todos. Apenas seis pereceram.

Igualmente insólito, em 1967, numa praia de Vitória, o Primeiro Ministro de então entrou na água e jamais foi visto. Actualmente, vários países desejariam igual sorte, mas nem todas as águas são assim traiçoeiras.

Bom, tudo isto para vos dizer que, apesar de todas as naturais precauções exigidas num país como a Austrália, estávamos determinados a passar uns dias de papo para o ar. Os planos eram perfeitos (nada mais programámos para a zona), mas ruíram minutos antes de aterrarmos. Os céus de espessos cinzentos e água abundante obrigaram-nos a alterar tudo.