O nevoeiro conferiu um especial misticismo ao inicio da nossa ousada experiência. Passava pouco das 07:00 quando entrámos de kayak nas águas de Milford Sound, rumo ao Mar da Tasmânia. Esse não era o destino final, mas apenas a direcção que íamos tomar.
Apetrechados até aos dentes, não havia frio que nos derrubasse. Nem mosquito que se atrevesse a aproximar-se. O espesso nevoeiro começou por ter piada, mas prometia arruinar os nossos planos, pois a deslumbrante e imponente paisagem em nosso redor deveria ser clara aos nossos olhos, sobrepor-se a tudo o resto.
Entre outras charmosas criaturas, nestas águas nadam golfinhos, pinguins e focas, mas os primeiros traíram os nossos sonhos. Nesse dia, estariam fartos do fiorde.
Àquela hora prematura, com as águas paradas e a visão reduzida, a audição foi instantaneamente apurada e assim ouvimos diversos e estranhos ruídos de aves, que ecoavam e se sobrepunham entre si algures acima de nós.
A uns 20 metros, na água, apareceu o primeiro pinguín, depois o segundo, veio uma foca... e foi uma paz vê-los procurar alimento no seu meio natural, aproveitando a melhor altura, ao raiar do sol, para um faustoso almoço, garantindo já aí o dia.
A meio do percurso, finalmente o sol perdeu a vergonha, o nevoeiro e a luminosidade foram brincando até que essa dança começou, lentamente, a destapar picos e montanhas abruptas que rodeavam todo o cenário.
Tudo selvática e hipnotizantemente bruto, puro, empírico. Rocha, natureza frondosa e cascatas mil. E nós ali, pequenos, minúsculos, com dificuldades evitar uma boca de assombro.
Juntámos os três K2 (Kaysks com dois tripulantes) e fizemos um silencioso pic nic, perto de uma das inúmeras abruptas falésias: não resisti, peguei no mp3 e a hora seguinte dediquei-a ao meu belo prazer. Nunca foi tão agradável pagaiar.
O Lonely Planet (trouxemos três guias que continuam religiosamente guardados no fundo das respectivas malas) escolheu uma experiência de kayak em Milford Sound como uma das 10 mais fascinantes para realizar em 2011. Ainda bem que nos antecipámos...
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