Um despretensioso registo desta aventura nos antípodas…

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Best Food award goes to...


Nos hosteis que temos frequentado, temos, com visível satisfação dos nossos estômagos, sido estrelas na cozinha. É impossível aos outros viajantes ficar indiferentes ao aspecto, qualidade e aroma da nossa comida. Pelo menos queremos acreditar que é isso que muitos olhares dizem.

Pois bem, em Glaciar Franz Josef (esta terrinha já tem meia dúzia de ruas) entrámos noutro campeonato. A ampla cozinha de duas salas estava à pinha e, ao que vimos, ficámos de olhos em bico. E não foi pelo invulgar número de asiáticos (sul coreanos e japoneses) que labutavam freneticamente na cozinha.

Como que só para nos chatear, toda a gente preparava elabodaríssimos pratos que, diga-se a verdade, em nada ficavam a dever às nossas iguarias. Ficámos com vontade de experimentar alguns, mas limitámo-nos a trocar elogios e a perguntar o segredo.

Parte do nosso orgulho foi recuperado com as três alemãs – mãe, filha e amiga da filha – com quem travámos conhecimento na sauna. Sim, ia esquecendo esta parte da história, mas foi gira. Foi aí que nos apresentámos e combinámos continuar a conversa na cozinha.

Fomos modestos quanto às nossas aptidões, enquanto a jovem cozinheira do outro lado mostrava um ar confiante pelos seus dotes.

Na hora da verdade, preparámos um arroz de marisco com legumes de fazer chorar uma rocha. Tínhamos várias ervas aromáticas e isso permitiu que nos impuséssemos por “KO”.

Macarrão riscado cozido com molho de tomate aquecido por cima não é propriamente um prato que sirva para nos bater. Antes de irmos para a mesa, oferecemos-lhes o primeiro prato, para provarem.

Três minutos depois, já sentadas na nossa mesa, questionavam e ouviam atentamente a explicação de como confeccionar a iguaria que se fartaram de elogiar.

Valha-nos as nódoas na cozinha deste mundo :)

Lago Matheson


A foto que ilustra este blogue é do lado Matheson. Por isso mesmo, é óbvio que seria um dos locais de visita obrigatória. O curioso é que, com tantos e tão fantásticos locais para visitar, fomo-nos perdendo.

Ainda assim, fomos, mais uma vez, protegidos pela sorte. Regressávamos a “casa” após visitar o Fox e eis que vejo uma placa a indicar Matheson Lake a seis quilómetros.

Não pode ser. Nem sequer está aqui indicado no mapa”, disse. Ainda assim, virei e segui nessa direcção. A meio, decidimos dar a volta, mas, na única rua de Glaciar Fox (a terrinha que dá apoio aos turistas o visitam) confirmámos a indicação e decidimos dar nova meia volta e ir até ao fim.

Sim, era verdade. Estávamos perante mais uma das belezas ímpares da Nova Zelândia. Pena é que o seu expoente máximo seja às 05:00, com as águas paradas e um misto hipnotizante de cores...

Aqui, confirmámos que 10 por cento do território do país é protegido pela UNESCO como beleza natural da humanidade. É preciso dizer mais?

GLACIARES


Era hora de rumar a norte e foi esse o caminho escolhido. Queríamos ter passado uma noite em Wakana, mas apenas foi possível visitar essa bela povoação (invariavelmente, nas margens de um lago) por uma escassa hora.

Tínhamos como objectivo os glaciares Franz Josef e Fox. Depois das inesquecíveis experiências na Argentina, queríamos ver se na Nova Zelândia estes fenómenos da natureza tinham igual impacto, beleza.

A verdade é que não. Imponentes e certamente fantásticos para quem vê um pela primeira vez, mas quem já tinha passado pelo Cerro Torre (caminhámos 17,5 km pelas montanhas até lá chegar, obrigados a fazer slide e rappel no caminho) e Perito Moreno (um dos maiores do mundo, o único que contraria a natureza e continua a crescer) tem a obrigação de ser mais exigente.

Para atingir a base do Franz Josef, bastaram 45 minutos de caminhada. Para o Fox, nem tanto. Meia hora sem dificuldades até o ter à nossa frente. Infelizmente, ambos estavam algo para o sujo na sua parte mais exposta ao visitante.

O efeito das alterações climatéricas é bem evidente em ambos. No ultimo século recuaram quais mais do que a nossa vida pode alcançar. A este ritmo, se tivermos netos, apenas poderão contemplar as imponentes montanhas onde um dia estiveram estes glaciares.


FUTEBOL NA TERRA DO RÂGUEBI

Nesta jornada pelos antípodas, ainda não nos atrevemos de ligar qualquer televisão. Aliás, nem nos lembramos dessa invenção para quem não tem muito que fazer poder ocupar o seu pelos vistos não tão precioso tempo.

De qualquer forma, e porque as paixões não se esquecem tão facilmente, fizemos as continhas todas para estarmos online na altura do “clássico” Sporting-FC Porto.

Zé Luís, mestre dos computadores, internet, pirataria & afins, em breves segundos encontrou o site que nos mostrou tudo. Em directo. Esperávamos mais do nosso Dragão. Mas também é verdade que, mesmo deste lado do planeta, vimos o “dedo” decisivo do árbitro ter influencia no resultado e... nosso almoço. Vingámos a ausência da vitória do FC Porto com dois litros de gelado de deliciosas “cookies”.

PS: vimos o jogo instalados num amplo sofá e, se tirássemos os olhos do monitor do portátil, a paisagem era de tirar a respiração. Como quase todas na ilha sul da Nova Zelândia.

Te Anau

Para não variar, um lago abraça Te Anau. Esta é a última civilização que podemos encontrar antes de Milford Sound. Também a primeira que passámos após regressar a Queenstown. Ainda assim, está demasiado longe. Situa-se a mais de 100 quilómetros, mas não passa de uma pequena localidade, que, graças a Milford Sound, começou a ganhar adeptos e a crescer com o turismo.

Há uma caminhada mítica entre as duas localidades. Exige uns quatro dias. Não havia tempo para tal.

Apesar da distância para o movimento de uma cidade (300 km para Queenstown), os turistas que arriscam a passar de Te Anau começam a chegar em peso ao local de sonho e o Milford Sounde Lodge, a única estrutura autorizada a receber turistas, está praticamente sempre esgotado. É necessário reservar com antecedência e foi isso que fizemos.

O único senão: imensos mosquitos que não dão um momento de paz. Felizmente, há quem tenha sangue mais “doce” do que o meu.


MITRE PEAK


Mal tínhamos saído do kayak e já investíamos mais uns inconscientes dólares em nova aventura nas águas de Milford Sound. Desta vez queríamos ir mesmo até ao Mar da Tasmânia e então optámos pelo Mitre Peak.

Sendo um barco mais pequeno, tinha condições para se aproximar mais das margens, ao contrário de outros “gigantes” que imperam naquelas águas, apinhados do turista-sardinha-enlatada: saem de Queenstown de madrugada, cinco horas a 'rasgar' de autocarro, entrar à pressa no barco, sair e igual velocidade e fazer todo o percurso inverso.

Assim, no Mitre Peak, poderíamos apreciar melhor a vida selvagem (mais focas e pinguins) e ficar mesmo por baixo das cascatas, sentido na face, no corpo, na alma aquela água cristalina a tornar a experiência ainda mais inesquecível.

Já não havia nevoeiro. Em nosso redor, todo o cenário era pleno, harmonioso, deslumbrante. Em paz.

Milford Sound


O nevoeiro conferiu um especial misticismo ao inicio da nossa ousada experiência. Passava pouco das 07:00 quando entrámos de kayak nas águas de Milford Sound, rumo ao Mar da Tasmânia. Esse não era o destino final, mas apenas a direcção que íamos tomar.

Apetrechados até aos dentes, não havia frio que nos derrubasse. Nem mosquito que se atrevesse a aproximar-se. O espesso nevoeiro começou por ter piada, mas prometia arruinar os nossos planos, pois a deslumbrante e imponente paisagem em nosso redor deveria ser clara aos nossos olhos, sobrepor-se a tudo o resto.

Entre outras charmosas criaturas, nestas águas nadam golfinhos, pinguins e focas, mas os primeiros traíram os nossos sonhos. Nesse dia, estariam fartos do fiorde.

Àquela hora prematura, com as águas paradas e a visão reduzida, a audição foi instantaneamente apurada e assim ouvimos diversos e estranhos ruídos de aves, que ecoavam e se sobrepunham entre si algures acima de nós.

A uns 20 metros, na água, apareceu o primeiro pinguín, depois o segundo, veio uma foca... e foi uma paz vê-los procurar alimento no seu meio natural, aproveitando a melhor altura, ao raiar do sol, para um faustoso almoço, garantindo já aí o dia.

A meio do percurso, finalmente o sol perdeu a vergonha, o nevoeiro e a luminosidade foram brincando até que essa dança começou, lentamente, a destapar picos e montanhas abruptas que rodeavam todo o cenário.

Tudo selvática e hipnotizantemente bruto, puro, empírico. Rocha, natureza frondosa e cascatas mil. E nós ali, pequenos, minúsculos, com dificuldades evitar uma boca de assombro.

Juntámos os três K2 (Kaysks com dois tripulantes) e fizemos um silencioso pic nic, perto de uma das inúmeras abruptas falésias: não resisti, peguei no mp3 e a hora seguinte dediquei-a ao meu belo prazer. Nunca foi tão agradável pagaiar.

O Lonely Planet (trouxemos três guias que continuam religiosamente guardados no fundo das respectivas malas) escolheu uma experiência de kayak em Milford Sound como uma das 10 mais fascinantes para realizar em 2011. Ainda bem que nos antecipámos...

domingo, 28 de novembro de 2010

Lateiros??


A comida começa a ser uma obecessão que nos está a incomodar. Se não estamos de talheres em riste, estamos a pensar na próxima refeição, a planeá-la.

A Nova Zelândia tem imenso para oferecer, mas, infelizmente, gastronomia rica, saborosa e variada é algo que vai tardar, se algum dia chegar. Fish & Chips é um conceito importado que ganhou adeptos entre os locais, mas muitos torcem o nariz a esta iguaria. Não é por acaso que facilmente se encontram restaurantes de outras paragens, com destaque para chineses, tailandeses e japoneses. Os asiáticos começam a povoar o pais e a arrastar os seus hábitos e costumes.

Bom, com tanta falta de oferta – e como várias vezes ficamos instalados em lugares isolados, na natureza, sem um único restaurante – cozinhar tem sido opção regular. Aliás, na onda do que nos tinham aconselhado.

Diga-se que temos feito furor – ainda esta noite três alemãs perguntaram-nos, por duas vezes, para que não ficassem dúvidas, como se fazia o delicioso arroz de marisco (com legumes, adaptação nossa) que lhes demos a provar – pois tratamo-nos bem. Apostamos sempre nos vegetais e preferíamos carne ao almoço e peixinho ao jantar.

O problema é que com a mobilidade que temos e a incerteza de restaurantes nas zonas desérticas (na ilha sul há apenas um milhão de habitantes, concentrados nas cidades, pelo que sobram locais ermos de gente), muitas vezes temos saído de um faustoso almoço para um luxuriante supermercado, fazendo compras já com certa náusea de comida, mas sabendo que sem estas precauções os nossos pneuzinhos vão sofrer.

Estamos a equacionar a possibilidade de reverter a situação, mas afigura-se como cada vez mais provável regressar-mos a Portugal com mais Kg's na "bagagem".

SENHOR DOS ANÉIS

O filme não mereceu critica consensual, mas é unânime a magnificência das paisagens onde foi rodado. Pois bem, tratou-se da Nova Zelândia e, para ser mais preciso, tudo foi rodado em vários pontos em torno de Queenstown, com predominância numa colina a caminho da mítica Milford Sound (um dos “segredos” que o Lonely Planet revela para 2011).

A caminho dos fiordes, fomos contemplando sucessivas paisagens de cortar a respiração e imaginamos que a Peter Jackson (neozelandês) não foi difícil encontrar cenários onde rodar a sua milionária saga.

Os cerca de 300 quilómetros entre Queenstown e Milford Sound costumam ser completados em cerca de quatro/cinco horas. Fomos a dar-lhe bem e nem parámos muitas vezes para fotos (se cedêssemos aos permanentes ímpetos, a esta hora ainda estaríamos a caminho).

Sem surpresa, desfilaram pelos nossos olhos lagos, soberbas montanhas, uma paleta de verdes e vaquinhas e cordeiros em ocioso repasto. Aliás, até foi possível vermos criação “doméstica” de alces. Preferimos não saber o que fazem com eles.

Quase a chegar ao destino, um túnel de uns dois quilómetros a fumegar à entrada, escuro, sem sinalização e com um desnível fortíssimo. A descida até Milford Sound continuou abrupta e ao chegarmos ao nível do mar – não precisamos de mais de 15 minutos – o carro tresandava a borracha queimada, das sucessivas travagens.

Queenstown


Isso aí é um autocarro?”, questionou, apontando com o indicador direito, como se houvesse alguma dúvida quanto à resposta.

Não tinha mais de 1,70 metros, fardava de azul e fiquei na dúvida se era um agente da autoridade ou um escuteiro. Uma vez que aparentava uns 45 anos e era o único cidadão que avistei em Queenstown de semblante um pouquinho para o carregado, preferi não arriscar.

Não. Efectivamente, não é. Só vamos carregar as malas e em dois minutos arrancamos. Por isso não abandonei o carro”, disse-lhe, semi-desculpando-me, já que ignorava a sua “autoridade”.

No seu país fazem isto? Estacionar carros na zona destinada a autocarros?”, insistiu. Disse-lhe que não, desculpei-me e prometi ser breve.

Queenstown está a ficar irremediavelmente sem espaço, daí a prevaricação ou desenrasque à boa forma portuguesa. A popularidade do pequeno burgo sobe em flecha e garantira-nos que neste momento já só apenas um terço dos habitantes é “kiwi”. Vimos muitos brasileiros a residir cá, tal como os inevitáveis orientais.

A cidade fica na margem do Lago Wakatipu e está rodeada de imponentes montanhas, uma das quais mesmo em “cima” da zona urbana. Subir um teleférico a pique é uma experiência cativante, mas ir aumentando o raio de visão sobre a paisagem paradisíaca é mais uma das grandes experiências inesquecíveis que se pode ter na Nova Zelândia.

Queenstown é muito popular – demasiado – entre os backpackers jovens, sendo conhecida como uma das capitais mundiais do desporto de aventura. Com efeito, não há actividade radical que não se possa fazer por estas bandas.

O Carlos fez Canyonning, enquanto eu e o Zé Luís "trepámos" (tanga) à montanha.

sábado, 27 de novembro de 2010

Koala... Tzé Tzé... Zé... ZZZZZ....


A vida tem imensos mistérios que jamais são desvendados. A ciência vai evoluindo, mas há ainda demasiadas questões sem resposta.

Estamos determinados a deixar a nossa impressão digital na história da Humanidade e, depois de muito maturar, eis que encontrámos a forma de o fazer.

Após uma década de viagens em conjunto, podemos, finalmente, garantir, com boa dose de probabilidade de êxito, que contribuímos para a resolução de um desses mistérios.

Darwin deixou-nos a Teoria da Evolução. Não quisemos ficar atrás e apresentamos a Teoria da Comparação.

O que tem de diferente um Koala, uma mosca Tzé Tzé e o Zé (Luís)? Pois... também ainda estamos a tentar descobrir. Mas... e o que os une? Aí está! Já temos uma teoria.

Todos – sem excepção – têm uma ligação irresistível com o sono. A mosca, provoca o sono nos outros. Há quem diga que até pode ser para a eternidade. O Koala dorme 20 horas por dia e nas restantes quatro pouco faz, para não gastar energias (tem uma dieta muito pobre, à base de folhas de eucalipto, pelo que até o “pensar” consome muita energia – é científico, não é tanga).

Ora o nosso Zé está algures no meio. Entre as horas que dorme na cama, as que ferra o olho no banco de trás do carro e o muito pouco que faz, acreditamos piamente que em breve fará como o Koala e deixar-se-á ficar o dia todo recostado a uma árvore.

Para vê-lo “bulir”, só mesmo quando se “baba” (como eu e o Carlos) a comer gelado (em embalagens de dois litros), quando integra a equipa que cozinha, no momento em que come (como um leão) e... procura sementes, para a sua “floresta” em Fradelos.

Encontrar esta teoria, demorou uma década. Descobrir um antídoto, uma solução, pode já não ser nesta vida.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O esperado “unexpected”


Bem me pareceu ouvir a falar em português. Não resisti a vir aqui cumprimentar-vos”, disse o mais “experiente” do trio que nos abordou, no arranque da aventura no trilho até ao glaciar Hook/Aoraki.

Feitas as apresentações percebemos que o trio estava igualmente em aventura fantástica pelo globo, neste caso circundando mesmo o planeta em 30 dias. Ufa ufa!

http://voltaaomundo720.blogspot.com/ é o blogue onde vão dando novidades.

Fica aqui o nosso abraço e o desejo de continuação de boa viagem!

Aoraki





Aoraki - Mount Cook


Ao chegarmos ao Lago Tenako, queríamos fazer check-in imediato no hostel (com lindíssima vista para o azulíssimo lençol de água) para seguirmos de imediato para o Monte Cook, mas, tirando os turistas de passagem, o Tenako não é propriamente muito agitado (como convém) e só a partir das 15:00 o poderíamos fazer.

Cumpridas as formalidades, viajamos mais 90 quilómetros. Depois de chegarmos à base da montanha, tínhamos pouco mais de quatro horas de sol. Havia que ser rápido. Já íamos inclinados a fazer o trilho do Hooker Valey e no gabinete de informação ao turista selámos a nossa convicção.

A ideia era subir e descer estreitos caminhos até ao glaciar Hooker (Aoraki, em maori), que no último século recuou alguns quilómetros nos Alpes do Sul, bem no centro da ilha. Esta é a maior montanha da Nova Zelândia (3.754 metros).

O facto de todos os aventureiros virem, invariavelmente, em sentido contrário – chegando, assim, ao fim do trilho – não nos demoveu, apenas nos motivou a apressar a passada. Com isso vieram alguns tropeções, mas, felizmente, sem consequências.

Atravessar estreitos passadiços de madeira era das partes mais emocionantes, pois sob os nossos pés corriam vigorosas e revoltas as agora cinzentas águas do degelo do glaciar.

À nossa volta, tudo perfeito. Sem qualquer manifestação humana, apenas luxuriante beleza natural. Melhor mesmo não estragar o cenário com palavras inúteis.

Olhos que (ainda) não acreditam


Oito dias. Nem mais, nem menos. É o tempo que temos para conhecer a ilha sul. Depois virá a norte... A primeira etapa começou em Christchurch e terminou no Lago Tenako. Uns 400 quilómetros reservados para o primeiro dia na estrada, pois ainda fomos ao irresistível Monte Cook.

Sabíamos que natureza fantástica ía desfilar perante o nosso ávido olhar, mas desconhecíamos o impacto com que o fez.

Lagos de viciante azul turquesa, imponentes montanhas recortadas a algodão doce, distintos verdes a perder de vista, natureza bruta e diversa, ausência de “humanidade”, um sol que nos abraça com paixão...

Estamos aqui, mas ainda não acreditamos...

Christchurch


As expectativas quanto à Nova Zelândia são demasiado elevadas, reconheço. Há muito que procuro um país ao nível da adorada Argentina – em termos de natureza – e estou certo que este país dos antípodas não vai defraudar.

Em Christchurch, o primeiro contacto com os locais não podia ter sido melhor. Simpatia extrema. Simplicidade. Gosto em ajudar o próximo. Solidariedade que foi reforçada na reacção da comunidade ao terramoto de Setembro.

Em termos de interesse para o visitante, destacam-se a pacata praça central e o jardim botânico, sem dúvida um excelente pronúncio para o que vem aí... Com o crescente numero de turistas a visitar a ilha, sobram lojas de “souvenirs”.


A grande surpresa revelou-se num passeio nocturno, quando encontrámos uma rua polvilhada de senhoras de

votas da mais antiga profissão do mundo. Simpáticas, educadas, cumprimentam com um genuíno sorriso de quem dá as boas vindas aos visitantes. Nem uma simulação de abordagem a nós ou restantes transeuntes. Aqui, os interessados que se cheguem...

Christ Church era uma capela construída pelo nevegador e explorador inglês James Cook neste território, onde os seus marinheiros e escravos rezavam e propagavam a religião católica. Não terão encontrado muitos “maori”, pois estes estão disseminados predominantemente na ilha norte.

Duplo Terramoto


Disse-lhe que se queria que eu esperasse por ele, teria de estar disposto a casar comigo”, disse Vicki, com o ar mais natural do mundo. Só se conheciam há três meses, mas queria estar certa de que não estaria a “desperdiçar” o seu “tempo”.

Eu e o Zé Luís nem queríamos acreditar. A jovem chinesa que está há um mês em Christchurch (Nova Zelândia) a tentar uma nova vida sabe bem o que quer da vida. Ou melhor, sabia. Parece que naquela noite lhe trocámos-lhe as voltas.

Lá lhe explicamos que o rapazinho australiano a quem dirigiu estas doces palavras deve ter tremido mais do que a elegante Christchurch no terramoto de Setembro. O sismo não fez vitimas mortais, mas afectou cerca de 100 mil casas na zona da mais importante cidade da ilha sul da Nova Zelândia.

Só procurando atentamente, conseguimos ver as marcas que a natureza

deixou naquela que dizem ser a mais britânica das cidades fora de Inglaterra.

Apesar das sucessivas réplicas que têm assustado, os cerca de 375 mil habitantes deste burgo do século XVIII mantêm inalterado tanto o sorriso como o optimismo. Já o australiano, temos algumas dúvidas se já recuperou...

A couchsurfer Vicki (boa parte dos asiáticos escolhem um nome inglês) revelou-se uma jovem de espírito ágil, aprende muito rápido e sabe ouvir. Expansiva e pura. Coração junto à boca, como poucos. Foi uma boa companhia, no jantar que preparamos no hostel onde nos instalámos.

Durante mais de duas horas ouviu considerações sobre a vida e relacionamentos. Que nem tudo é preto ou branco. Que ela é mais importante do que qualquer paixão passageira. E que quanto mais experiente for, maiores as probabilidades de tomar decisões acertadas quanto ao resto da sua vida.

Quando não entendia, pedia para repetirmos. Até que não restassem duvidas.

Neste mês na Nova Zelândia, mudei, cresci um pouco”, confessou, com ar sério. “Neste jantar convosco, o salto foi muito maior”, acrescentou.

Desvalorizámos. Foi noite muito bem passada. Quando Christchurch voltar ao nosso roteiro (e assim será), haverá oportunidade para rever a “matéria”.



terça-feira, 23 de novembro de 2010

Quando taxistas ladrões atacam, solidariedade portuguesa resolve

Como sempre, decidimos arriscar. Já não tínhamos muito tempo – na verdade, era apenas uma hora de margem para o voo – mas lá nos metemos no comboio para Sidenham, onde ficava o Clube Português. Não muito longe do aeroporto, ainda assim.

Tínhamos de encontrar o Frazer Park. Lá conseguimos. Ficamos surpresos pela positiva com o dinamismo desta comunidade, que tem instalações invejáveis, que incluem um amplo café, restaurante, salão de baile, sala de jogos de azar, um campo de futebol relvado com bancadas e outros dois mais pequenos, para treinos. Além de amplo parque de estacionamento.



Com o calor a apertar, lá matámos saudades de tremoços com cerveja /panachê. O tempo voou demasiado rápido e pedimos um taxi para nos levar ao aeroporto.

Quando instalados no interior da viatura fretada, o jovem motorista, de origem indiana, disse-nos que a bandeirada era de 50 dólares, mais 10 pelo “serviço especial”, já que, mesmo estando a praça de taxis a menos de um quilómetro do clube, o serviço foi requisitado por telefone. Sui géneris.

Mostrei enorme espanto pelo exagero do valor, disse-lhe que nos pediram apenas mais 10 dólares por uma viagem de distancia 15 vezes superior. Respondeu-me que as coisas eram assim mesmo e sugeriu-me que fosse tirar duvidas com quem fez a chamada. Assim fiz. Mal comentei o valor, gerou-se logo grande azáfama pelo “roubo”.
“Não podem cobrar mais de 20-25 dólares”, garantiram-nos.
Acompanhado de animados reforços, nem precisamos de falar com o taxista. Entretanto, este já tinha mudado de opinião e o serviço agora era conforme o taxímetro, mas não abdicava dos tais 10 dólares que tinha dificuldade em justificar.

Um dos nossos “cavaleiros” era um algarvio de 73 anos, que foi taxista durante muitos anos. Em dois tempos desarmou o seu sucessor no “business” e, depois de simpaticamente o ter mandado a um determinado lugar, prontificou-se para nos levar. Em 10 minutos estávamos no aeroporto internacional.

“Esta conversinha na viagem já foi paga suficiente. Tenham excelente voo e apareçam com mais tempo”, disse, sorrindo e recusando-se a qualquer pagamento pela gasolina. Acreditámos que o prazer em ajudar-nos conseguiu ser ainda maior do que o nosso alívio, pois já estávamos atrasados.

É por esta e por outras que tanto respeitamos a nossa comunidade emigrante em qualquer canto do planeta.

Caça-sementes strikes again!




Até “hoje” pensávamos que já tínhamos visto de tudo quando o Zé Luís fica obcecado por uma semente, algo que acontece com frequência bem superior à que desejávamos (melhor nem partilhar convosco que até já convenceu o Carlos a trepar várias árvores quando era expressamente proibido fazê-lo).

Pois bem, o nosso fiel jardineiro tem uma capacidade impressionante para nos surpreender.

Já de malas e mochilas rumo ao aeroporto, eis que passámos por mais uma querida árvore cujas sementes eram cobiçadas e desejadas pelo Mc-Jardineiro. Tentou abanar a árvore a pontapé, mas esta revelou-se firme e determinada a não ceder.

Quando a desistência parecia uma evidência, passámos por um amontoado de “tralha” de luxo, que ricos condóminos deixam na rua para que as autoridades sanitárias competentes os levem. Sofás, micro-ondas, mesas, ventiladores, televisões, um pouco de tudo.

Zé Luís franziu a testa, afastou para trás o seu típico chapéu multicolor (predominantemente amarelo), coçou a cabeça e eis que encontrou o objecto ideal para a sua empreitada.

Lá fui forçado a voltar atrás com ele (o Carlos ficou a guardar as malas) e... ou-oupa, primeira tentativa! Falhada. Sereno, voltou a pegar no objecto e, mais determinado que nunca, atingiu um galho da árvore, conseguindo colher cinco sementes, acima das melhores expectativas.
Sorriu, embrulhou-as num lencinho, pegou na multifacetada GAVETA e devolveu-a à respectiva mesa, que esperava pacientemente no amontoado de lixo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Wild Life




A Austrália é fértil em peculiar fauna e flora, com milhares de espécies endémicas. Não as encontramos em mais lado algum no planeta. Muitas são mesmo mortíferas. Decidimos explora-las.
Comprámos um pacote para quatro grandes atracções. 50 dólares cada. Valeu a pena.

Começámos com o Wild Life, onde apreciámos o relaxamento dos cangurus, a preguiça dos Koalas, a rapidez de múltiplos “primos” dos ratos, vários bichinhos que nem sabemos o que lhes chamar, a multiplicidade de cobras e aranhas venenosas...




De peito cheio e estômago reconfortado, seguimos para o famoso Aquário de Sydney, ao qual assenta perfeitamente cada elogio que recebe. Esquecendo os múltiplos tubarões e as raias, eram milhares de peixes distribuídos e catalogados em diversos aquários gigantes. O fascínio foi tal, que, sem pensar na actividade seguinte, acabámos com duas baterias de fotos e com a fita da máquina de filmar. Aqui todos nos sentimos crianças. Viajámos para um mundo muito distante. E confirmamos, igualmente, que o plástico (lixo) é, realmente, um dos grandes cancros do planeta.




Vimos peixes de forma e feitio tão exóticos e coloridos que dificilmente a imaginação e fantasia de Hollywood os conseguiriam inventar.


E os corais???



E pudemos ver um interessantíssimo trabalho sobre o mundo daqui a 200 milhões de anos, previsto pelos cientistas. Fiquem sabendo qeu as várias placas continentais vão voltar a juntar-se, que os peixes vão voar e haverá lulas gigantes, de 20 metros, que dominarão tanto os mares como, surpreendentemente, na terra. Num misto de lula e elefante. Os tubarões, continuarão a sua longa história. O Homem já não faz parte do cenário.

Culminámos o dia a subir aos céus – Tower Hall – onde tivemos uma visão paradisíaca de Sydney e toda a zona que a envolve, recortada numa costa caprichosa polvilhada de habitações de luxo em harmonia com a natureza. E largas centenas de pequenas e grandes embarcações ao largo.

Tudo isto fica na zona do Darling Harbour, uma nova zona da cidade, muito turística, mas na qual vale mesmo a pena investir algumas horas. Muitos dos festejos da cidade e país começam a passar também por este novo espaço.

SYDNEY




Trata-se, certamente, de uma das cidades com mais “elan” no planeta. Cativante, jovem, moderna, bela, arejada. E podíamos continuar com os elogios, que não seriam exagero para este burgo cada vez mais bem frequentado.
Comparando com Perth, foi um salto tremendo.
Viajámos de noite e eram 07:00 quando chegamos aquela que muitos no mundo julgam, erradamente, a capital da Austrália (**). Marcelo, paulista convicto, foi nosso anfitrião, em excelente equipa com o “irmão” Danilo, em DeeWhy, no lado norte.

Pousado o desconfortável equipamento, hora de voltar ao centro, começando com deslumbrante viagem de ferry entre a popular Manly e o Circular Quay, local de peregrinação obrigatória de todos os turistas.

É aqui que se pode visitar a famosa ópera de Sydney (a obra do arquitecto dinamarquês Jorn Utzon foi projectada para ser construída em seis anos, demorou 15 e custou 102 milhões de dólares, 14 vezes mais do que o estipulado), com vista privilegiada para a secular ponte, talvez a maior obra de engenharia dos primórdios do país, independente desde 1901.

Depois apanhámos o CAT (serviço de transporte grátis em algumas linhas no centro das maiores cidades australianas) e vagueamos pela zona da China Town. Linda. Animada. Com muito “ambiente”.

Na verdade, muitas vezes Sydney mais parece uma cidade asiática, dado o elevadíssimo numero de orientais que circulam no seu tecido urbano. Algo que se estende aos arredores. Os australianos demoraram a abrir a emigração aos vizinhos asiáticos, mas quando o fizeram, certamente não imaginavam uma invasão desta dimensão.

O dia não terminou muito tarde. Estávamos exaustos e domingo ia ser bem longo.

(**) Dada a rivalidade e igualdade de desenvolvimento economico-sócio-cultural de Sydney e Melbourne, em 1901, quando a Austrália se tornou independente, foi decidido edificar uma nova cidade que seria a capital do país. Encontrou-se um lugar a meio caminho e assim foi planificada Camberra. Note-se que o nome só muitos anos depois foi acertado, uma vez que no período da construção da cidade multiplicaram-se as sugestões, com algumas literalmente impronunciáveis.

domingo, 21 de novembro de 2010

Birthday... Again??


Eva não escondeu a sua surpresa. Eu fiz o jantarinho de aniversário a 17 de Novembro e quando nos aprestamos a fazer o do Carlos, apenas dois dias depois, a 19, a alemã não conseguiu conter-se: “Birthday.... again??”.

Para que não houvesse duvidas, lá lhe colocámos os passaportes a cinco centímetros dos olhinhos. Esboçou um sorriso, até porque não é todas as semanas que estranhos a presenteiam – e aos seus amigos - com um belo repasto. O Bruno e a Camile não estavam, e não nos pudemos despedir e agradecer por tudo.

Voltando aos assuntos do paladar, Eva e Sam, o neozelandês, só não imaginavam que o Zé Luís estava em inspirado dia de descuido propositado – leia-se picante em doses industriais - e que o seu destino era juntar-se à família do Dragão, pois em breve estava a deitar labaredas (e palavrões) pela boca. Ainda assim, nota “AA” para o desejado arroz de marisco. Um rating aceitável.

Quanto ao vinho branco, a surpresa, desagradável, de ser, literalmente, doce (curti as cinco virgulas numa frase tão curta).

Cumpridas as formalidades com o aniversariante, foi fazer as malas à pressa, obriga-las a caber no carro e voarmos a toda a velocidade para o aeroporto, pois havia ainda que devolver o carro e tratar das formalidades normais para atravessarmos o país até chegar à desejada Sydney.

RUMO AO SUL...



Finalmente, popó nas mãos. Infelizmente, apenas por dois dias. Sul foi a direcção. Mais concretamente, procurávamos Margaret River. A região é tão famosa pelos seus cativantes vinhedos como pelas deslumbrantes praias, únicas para a prática do surf.

Acabámos por dormir no Surfers Point, a 300 metros do mar. No meio de uma reserva natural. A meio da tarde, não resistimos a um mergulho e papinho para o ar um par de horas. Depois conduzimos um par de quilómetros para norte, onde uma vista fantástica para o mar e natureza captava a atenção de umas três dezenas de pessoas, acomodadas numa simpática relva, geralmente bem abastecidas de álcool.

A noite foi de bilhar, contra uma dupla israelita da Mossad. Pelo menos, parecia. A perda do primeiro jogo revestiu-se de humilhação da nação judaica, pelo que os nossos opositores cerraram dentes e limparam-nos o cebo, sem espinhas, nos dois jogos seguintes. Exibiram orgulho tal que parecia que Israel tinha ganho, novamente, e com ainda maior impacto, a Guerra dos Seis Dias.



No dia seguinte, começámos por explorar umas das muitas grutas da região. Lake Cave tomou-nos uma hora. Interessante, mas insuficiente para verdadeiro espanto.

Seguiu-se o início do percurso para Norte. Yallingup foi a nossa primeira paixão. Uma pequena localidade junto ao mar (invariavelmente, paraíso para surfistas) constituída por um conjunto de casas tão diversas quanto belas. E perfeitamente integradas com a paisagem. Uma harmonia que enche o peito e satisfaz as nossas mais exigentes fantasias estéticas.



Depois de um erro de casting – ida ao farol do Cabo Naturalista – o almoço decorreu em Dunsborough. Com relvados tão “apetitosos”, optámos por fazer um pic nic. Frango tipo churrasco e três tipos de salada. As persistentes gaivotas não resistiram e montaram uma paciente “cerca”, imitada por um simpático e obediente buldog. Nenhum dos bichinhos teve sorte.

Busselton e Bunbury deixaram boas impressões. Pena não haver mais tempo para as explorar. É hora de acelerar: Ainda temos de fazer as malas, pois esta noite partimos para Sydney.

sábado, 20 de novembro de 2010

ASSALTO




Há uns anos, quando ladeava a CM Porto rumo à Trindade, um toxicodependente abordou-me e, em pleno dia, ameaçou-me com uma seringa. Dizia que estava infectada com HIV e que nem hesitaria em espeta-la no meu braço se não lhe desse dinheiro. Indiferente (ou, talvez, inconsciente) preferi dar-lhe “duas de conversa”. Finalmente, viu que perdia tempo, balbuciou algumas palavras de desagrado e foi embora. Um assalto falhado.

Na Austrália, os assaltos não falham. Pelo menos nos tempos correntes. Indiferente à hora e local. E ninguém bufa. Não adianta. É um facto que nos temos sentido impotentes para preservar a saúde financeira da nossa carteira. Ao contrário do que terá sucedido durante muitos anos, o custo de vida na Austrália (pelo menos na zona de Perth) tornou-se insustentável para um europeu.... do Sul.

Só para citar alguns pequenos exemplos, venham ao supermercado ver o que encontrámos: cerveja de lata (330 ml) a cinco euros, garrafa de água 1,5 litros a dois e meio e o quilo de beringelas e vários outros legumes a rondar os 12 (!!!) euros. Repito, em supermercado.

Um jantar normal num restaurante mediano não fica por menos de 30/40 euros. E, obviamente, sem beber vinho. Obviamente, não estão aqui incluídos as soluções asiáticas ou fast-food.

A seca que assola a região da Western Australia, que já dura há uma década, é o argumento utilizado para tão exorbitantes preços nos legumes. Explica apenas uma parte do problema, pois os preços proibitivos estendem-se a praticamente tudo. E o dólar australiano continua a valorizar. Vamos sofrer...

Aborígenes



É impossível falar da Austrália sem citar o povo aborígene. Ainda assim, trata-se de matéria a abordar mais seriamente apenas em momento posterior. Quando munido de informação suplementar. E mais consistente.

De qualquer forma, esta para já curta experiência no país permite falar de factos concretos. E é bem concreto que boa parte do comércio nas várias localidades por onde passámos vive da exploração exaustiva da cultura aborígene. E continua a ser concreto, factual, que ninguém deste povo é visto na cadeia produtiva: seja em bancos, restaurantes, bares, supermercados ou nas tais lojas de “souvenirs” que vivem do que a sua cultura (a mais antiga do mundo a ter chegado aos nossos dias) produziu nos últimos 60 000 anos, desde que povoaram a Austrália (os europeus chegaram há pouco mais de 200).

Não é complicado ver aborígenes nas ruas, mas também é verdade que não são assim tão fáceis de encontrar. Se puder criar uma regra apenas pelos que vi, vamos ao eterno problema do álcool – geneticamente, lidam muito mal com esta “droga”, com efeito semelhante no seu organismo a vícios em “pó” mais enraizados no resto do planeta - e ausência de laços comuns com a população branca.

Os aborígenes, normalmente com indumentária simples e pobre, desconforme às “normas sociais”, vagueiam pelas ruas e parecem viver em realidade paralela à dos brancos. Cruzam-se nas ruas, mas parece que não se vêm. Não comunicam. Ainda não consegui encontrar palavras que retratem fielmente este alheamento, vazio do seu olhar, que parece sempre distante.

Sem duvida, o modelo social australiano falhou aqui. Claramente. E nem me vou referir à Geração Roubada, que abordarei mais lá para a frente, talvez em Alice Springs. Despojados da sua terra, dominados por uma cultura com valores e regras completamente avessos aos seus, os aborígenes continuam desterrados na sua própria casa e o cenário dificilmente vai melhorar. Até porque a sua “integração” na sociedade parece mais um objectivo dos brancos do que dos próprios aborígenes, apenas felizes com o regresso ao passado, antes da invasão branca.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Lets Party!




Era para ser um jantar recatado. Seis a oito pessoas. Acabámos por ser 13. E não foi azar! Estávamos preparados: eu, o Carlos e o Zé Luís – o “dream team” completo - mimamos três quilos de carne, juntando-lhe outros tantos de vegetais, sabiamente misturados com especiarias. Tudo regado a bom vinho tinto. Juntar portugueses, australianos, neozelandeses, francesas e alemãs não é muito habitual, mas foi assim que comemorei o meu aniversário. O jantar já estava há muito prometido ao Bruno, algarvio nosso ímpar anfitrião.

Uma “ultima ceia” um pouco mais 'hippie', ao ar livre, com a informalidade de um ambiente descontraído que tornou o jantar um excelente momento. A Camile (francesa, namorada do Bruno, e que fala um excelente português, ´conquistado´ no Erasmus) foi uma querida e fez um excelente bolo de chocolate. Confessei-lhe, depois de a saborear intensamente, que não sou apreciador desta sobremesa, mas a verdade é que repeti e só não chorei por mais, porque os homens não vertem lágrimas com essa facilidade.

Acabada a “festa”, e após um par de horas de sono, acordei antes das 06:00. Foi engraçado verificar que ainda era aniversariante... em Portugal!

Confesso que fiquei surpreso. Demasiado. Apesar das novas tecnologias facilitarem a comunicação, não esperava receber os “parabéns” de cerca de 350 amigos/conhecidos, entre inúmeros sms, mails e mensagens no facebook. Novamente, a TODOS, obrigado por terem feito mais especial um dia que para mim sempre foi e será apenas mais um.

Sua “Majestade”



Foi há dois anos que o Kings Park de Perth teve um dos seus momentos áureos. Foi uma logística complicada. Mais de 20 homens responsáveis pela missão que incluiu viagem terrestre de seis dias. Sábado à noite era o grande momento, mas o entusiasmo foi tal que as mais de 3000 pessoas entusiasmadas com esta operação de salvamento acabaram por “bloquear” (com as viaturas estacionadas) as artérias de acesso ao Kings Park, impedindo que o TIR de significativas dimensões pudesse circular e assim completar o seu desígnio. Tudo foi transferido para a manhã seguinte.

A “jeitosa” (recupero o nome verdadeiro da espécie, mal me lembre dele) é uma senhora árvore de respeitáveis 750 anos e 37 toneladas, com 2,5 metros de diâmetro. Como ia ser abatida em nome do progresso – sobra espaço vazio na Austrália, mas a estrada tinha de passar mesmo “ali” - o Kings Park aproveitou a deixa e organizou uma gigantesca e bem sucedida operação que levou a “jeitosa” numa viagem de cerca de 3.400 quilómetros, desde o território do Norte.

Este é um exemplo perfeito do empreendedorismo dos habitantes de Perth, a cidade mais isolada do Mundo (Adelaide é a capital de estado mais próxima e está a cerca de 2700 quilómetros). Aliás, só assim se explica o sucesso de uma metrópole (entre as cinco melhor nível de vida no Mundo) em território inóspito.

A árvore desta história é apenas um dos imensos pontos de interesse do Kings Park, sem dúvida o grande ícone de Perth, a quarta maior cidade da Áustrália, com cerca de 1,7 milhões de habitantes. O capitão James Stirling fundou-a há “apenas” 180 anos, pelo que “história” centenária comparável à Europa é algo que aqui não se pode encontrar em edifícios, aliás a exemplo do que acontece em todo o país.

Perth, sem dúvida um local abençoado por uma luminosidade invulgarmente cristalina, vê-se num dia. Foi o que fizemos, aproveitando as três linhas de autocarro grátis que circulam pelos principais pontos de interesse da cidade.

O Kings Park (faltou dizer que alberga centenas de espécies endémicas de flora, das mais belas e invulgares que se possa imaginar), um saltinho a Fremantle (onde ficámos instalados) e um dia (ou mais) na Rottnest Island (por 70 dólares, meia hora de viagem até uma ilha com praias paradisíacas e uma fauna e flora típicas) são os principais pontos de interesse da zona.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Fremantle





Quando a 25 de Abril de 1829 o HMS Challenger, comandado pelo capitão Charles Fremantle, atracou na costa australiana do indico para lançar as bases de uma colónia no rio Swan, jamais pensou que a sua cidadezinha fosse das mais interessantes de toda a Austrália Ocidental.

Localizada a apenas 19 quilómetros a sudoeste de Perth, a capital do estado, “Freo” não terá mais de 40 000 habitantes, entre os quais mais de uma centena de portugueses, que se instalaram a partir da década de 50. Fugiram à pobreza e ditadura, dedicando-se essencialmente a actividades ligadas à pesca. Por isso mesmo, alguns dos bons restaurantes da cidade pertencem a lusos, que deram a merecida fama ao bacalhau por estas paragens. O Clube de Portugal, com instalações invejáveis, é o local privilegiado de encontro da comunidade.

Fremantle destaca-se pelos seus belos edifícios do século XIX, exemplarmente conservados. O comércio na “baixa” torna-se assim ainda mais interessante, pois a simpatia e simplicidade dos australianos torna-se mesmo uma das suas principais imagens de marca.

O mercado é considerado um “must”, mas só está aberto de sexta feira a domingo, pelo que é preciso esperar.

Liberdade...





Foram muitas horas – demasiadas, mesmo – em viagem. Escala em Milão, Doha e Kuala Lumpur até chegar a Perth. O pequeno incidente à chegada apenas apressou o nosso desejo de liberdade. Acima de tudo, pousar as malas e “sair”, respirar.

Instalamo-nos em Fremantle, em casa do Bruno (ampla mansão típica dos 70 com grande jardim e dois pisos), onde também vivem a Michele e o John, ambos de Sydney, a alemã Eva, o neozelandês Sam e a francesa Camile. Uma verdadeira babilónia de nações que nos recebeu de braços abertos. Mesmo não nos conhecendo de lado algum.

Chegados e instalados, em meia hora já sentíamos o ar e luz locais dar-nos novo alento à face (não posso falar do cabelo, pois... não há muito), pois saímos com bicicletas emprestadas pelos nossos anfitriões.

Em 10 minutos já respirávamos maresia e estávamos desejosos de mergulhar nas águas cristalinas das praias de Fremantle, mas não estávamos preparados. Ainda.

De seguida fomos para o centro da cidade costeira vizinha de Perth, aliás, bem mais interessante do que a capital mais isolada do mundo. Bastava aquele mar, os múltiplos barzinhos e o estilo vitoriano das casas do centro “histórico”.

Finalmente, respirámos...